A alta fez empresários adaptarem cardápios e os consumidores a reverem os hábitos alimentares para driblar os valores elevados na capital
A alta no custo da carne bovina leva restaurantes a quilo a criar tarifas diferenciadas para pratos com a iguaria, a diversificar e incrementar o cardápio com outros tipos de proteína ou reajustar o preço das refeições e do rodízio. A CRÍTICA conversou com empresários da capital sobre os impactos do aumento de 22% no preço da carne. O dano é maior onde o produto é a base principal, por exemplo, churrascarias.
O proprietário da Rede Picanha Mania, Roberto Lima, relatou a falta do produto, o aumento excessivo e como agravante a alta do dólar porque a empresa trabalha somente com picanha importada. “O aumento do preço na compra do produto foi em média de 35% e, automaticamente acontece, o reajuste. Não tem como segurar. Repassamos 20% para o cliente e 15% estamos absorvendo”, disse o empresário, acrescentando que a tendência do mercado é de não recuar no preço que deve permanecer até o primeiro semestre de 2020.
No Adolpho Assador, a elevação no preço de alguns cortes foi de 10%. Por exemplo, 100 gramas da costela subiu de R$ 9 para 9,99. “Eu tentei segurar um pouco preço, mas não consegui. A picanha, por ser um produto queridinho do consumidor brasileiro, aumentou mais. Não estou repassando tudo e estamos fazendo o que é preciso para manter a casa aberta. Os consumidores estão sendo super compreensivos”, declarou o empresário Adherbal Menezes Netto.
A Gaúcho's Churrascaria se antecedeu a crise no setor e adquiriu um estoque para atender toda a clientela de dezembro. A empresária Claudia Borges Medeiros disse que foi inevitável a alta em 10% do preço do rodízio, que hoje custa R$ 90 por pessoa. “Nos antecipamos e compramos uma carne num preço bom para ter esse estoque. Tive que disponibilizar um capital para não ficar sem carne, já que é 80% da nossa matéria-prima. Tivemos que aumentar o preço porque a alta na carne foi significativa e em seguida outras coisas também aumentaram”, afirmou.
O administrador Walber Silva Cabral, dono do Picanharia Vieiralves e do Naoca Restaurante, relatou que os reflexos são todos negativos com o aumento dos preços, diminuição da margem de lucro, da demanda pelo produto e da vagas de emprego nos restaurantes especializados.

“Todos os fornecedores estão com dificuldade de atender nossas demandas. Muitos não fizeram pedidos por conta do preço elevado e os que tem não suprem a demanda do comércio elevando ainda mais os preços. É um cenário bastante preocupante a curto e médio prazo em uma época bastante importante do ano”, afirmou o empresário complementando que irá segurar o preço do cardápio o máximo de tempo que conseguir antes de aumentar os valores, estimado em 10 a 20%. A empresa estuda desenvolver produtos alternativos neste período.
O proprietário da hamburgueria Eighty's Burguer, Jean Fabrizio, disse que não há como não repassar o aumento ao consumidor. “Planejamos reajustar os preços sim, mas com cautela. Nada que possa onerar demais a conta do cliente. Não faz parte da filosofia da empresa diminuir a gramatura da carne ou comprar algo mais barato que não tenha a qualidade que sempre nos propomos a oferecer” disse o empresário.
Picanha até 50% mais cara
A proprietária do restaurante Kilomania, Lilian Guedes, disse que a alta em alguns cortes de carne chega a 50%, por exemplo, da picanha. O restaurante de comida a quilo, no Centro de Manaus, oferece vários pratos de filé no buffet e na churrasqueira a aposta é na picanha.
“Estamos conseguindo manter o preço por conta do estoque. O meu desespero é para repor. Não alteramos a qualidade e preferi diminuir a quantidade de pratos de filé, de quatro para dois, acrescentando outras proteínas no cardápio. Na churrasqueira, reduzi a oferta de picanha e aumentamos os outros cortes nobres como contra-filé que antes não era o nosso carro chefe”, disse.
A empresária disse que ainda não é possível avaliar os impactos, mas teme que a conta não feche no final do mês. “A mudança foi na virada do mês e o impacto só vamos avaliar quando encerrar dezembro. Eu não sei com vai ser janeiro. Estou muito preocupada”, contou.
Rosineide Maia, dona de um restaurante localizado no Aeroclube de Manaus, contou que não alterou o valor da comida a quilo e do prato feito. Para se manter, ela aposta na criatividade com a diversificação do menu. “Adicionei novos pratos com frango e peixe. Pesquiso onde o preço da carne está mais em conta para não perder a clientela que prefere a carne e também manter essa proteína no cardápio”, disse.
No restaurante Kilo Center, no Centro, o buffet livre com churrasco subiu de R$12 para R$13. No supermercado Pátio gourmet, os clientes que optam pelo self-service estão pagando um preço diferenciado pela grama de carne, prática semelhante adotada quando a proteína é salmão.
Foto: Winnetou Almeida
Por: Larissa Cavalcante/A Crítica
*Redação: blogjrnews.com