Músicos alegaram à candidata a vereadora que são excluídos do circuito de eventos na capital e, ao mesmo tempo, têm sua cultura regional apropriada
A candidata a vereadora de Manaus pelo PT, Anne Moura, demonstrou comprometimento com a cultura genuinamente amazonense durante uma reunião com músicos do ritmo Beiradão, nesta terça-feira (17/09). No encontro, os instrumentistas e cantores afirmaram que são excluídos do circuito de eventos promovidos pela Manauscult, a pasta da cultura da Prefeitura de Manaus, e, ao mesmo tempo, têm sua cultura regional apropriada nestes espaços.
Com propostas para democratizar o acesso a políticas culturais, Anne Moura afirmou que vai defender na Câmara Municipal de Manaus mais apoio e valorização para o ritmo eternizado pelos saxofones e guitarras de grandes artistas como Teixeira de Manaus, Chico Cajú e Oseas. Em 2023, Beiradão foi considerado patrimônio cultural imaterial do Amazonas.
“Falar do Beiradão não tem a ver só com valorizar os artistas ou a música, é algo da nossa cultura, tem a ver com a nossa história. Muitas vezes, por falta de apoio, nós passamos a valorizar mais o que é de fora”, afirma Anne Moura. “É apoio para festival que vocês querem? Bora! É lei de patrimônio municipal para o Beiradão? Bora. Imagina ter um festival que a gente pudesse mostrar tudo isso? Tem projeto, tem edital. Vamos correr atrás e nos organizar, valorizar vocês, que sobrevivem da arte. Mas também precisamos fazer o caminho inverso: o Beiradão tem que ir para as escolas, incentivar os jovens artistas, começar na base da cultura e educação”, disse.
Tratamento similar ao boi-bumbá
O músico Roberto Rios, o “Pop do Beiradão”, pede mais apoio para os artistas locais assim como aconteceu com a cena cultural do Boi-Bumbá de Parintins. “Quando o boi começou, ele era marginalizado. Até que os eventos e autoridades trouxeram respeito e impulsionaram os artistas. Nós esperamos o mesmo tratamento para o Beiradão, que é rico em cultura, fala do ribeirinho, da canoa, da zagaia, da casa de farinha, da festa da padroeira. As letras contam sobre histórias que são verídicas, retratam costumes do nosso povo. Nosso sonho é conseguir apoio para colocar o Beiradão nos calendários oficiais".
Com o abandono por parte do poder público, os músicos do Beiradão sobrevivem como podem. “Não temos apoio nenhum. Hoje, quando um amigo consegue espaço, chama o outro para se apresentar. Juntos, nós garantimos a nossa subsistência, mas não avançamos além disso. Já ‘patrimonizou’ no estado, mas precisa levar para o Iphan e chegar a nível federal para ser realmente valorizado”, defendeu Roberto Rios.
Lico Magalhães, músico e filho de Magalhães & Sua Guitarra – um dos principais nomes do Beiradão no Amazonas na década de 1980, confirmou para a candidata a vereadora Anne Moura que gestores da Fundação Municipal de Cultura, Turismo e Eventos (Manauscult) chegaram a negociar com os artistas um espaço dedicado ao Beiradão no “Festival Sou Manaus Passo a Paço”, o principal evento de cultura promovido pelo Município cuja edição 2024 foi realizada neste mês de setembro.
Entretanto, tudo não passou de promessa vazia. “Demos a ideia para o secretário da prefeitura montar o ‘Palco Teixeira de Manaus’. Ele ficou de pensar e não deu em nada”, afirmou.
O ritmo do Beiradão
Surgido em meados dos anos 1970 a partir de grupos musicais que viajavam de barco para realizar festas à beira dos rios nas comunidades, o ritmo do Beiradão consolidou-se como uma das maiores expressões musicais no Amazonas. Antes sinônimo das festividades, a expressão “Beiradão” deu nome ao ritmo acelerado das guitarras e saxofones, sob influência latina como a lambada, salsa e merengue até ganhar projeção nacional com “Teixeira de Manaus”.
Foto: Divulgação
Fonte: Shirey Assis