Do torcedor que deu ao filho o nome Dejan Petkovic ao que tatuou a falta: no aniversário do tri do Flamengo, sérvio conversa com rubro-negros com lembranças marcantes de 27 de maio de 2001
Um gol que dá nome a um título. O "gol do Pet" é mais famoso do que a conquista proporcionada por ele. No dia do aniversário de 20 anos da cobrança que deu a um sérvio o posto de gol de falta mais marcante para um torcedor que tem como ídolo máximo Zico, o ge reuniu lembranças que comprovam o peso histórico do tricampeonato carioca conquistado pelo Flamengo em 27 de maio de 2001.
Do torcedor que batizou o filho como Dejan Petkovic ao que tatuou a falta no braço, passando por aquele que abandonou o hospital porque não podia perder a final, o ge reuniu cinco rubro-negros com recordações inesquecíveis da tarde de 27 de maio de 2001. O convite era para uma videochamada, com o objetivo de que cada um contasse a sua história.
Eles só não sabiam que o próprio Pet entraria na conversa de surpresa. Veja no vídeo a emoção dos torcedores rubro-negros quando o sérvio apareceu na videochamada.
Se na virada do século o Vasco era um dos times dominantes no futebol brasileiro, no cenário estadual o Flamengo combateu a rivalidade com triunfos inesquecíveis. O maior deles pelos pés de Dejan Petkovic. Conheça abaixo as cinco histórias que ajudam a explicar a relevância daquela conquista para algumas gerações de rubro-negros.
Em detalhes, a cobrança perfeita de Petkovic
"Esse dia foi f...! Na Globo aqui em Minas, estava passando o segundo jogo da final do Paulistão, entre Corinthians e Botafogo de Ribeirão Preto. O Corinthians já tinha goleado o jogo de ida e eu estava grilado por eles transmitirem essa final. Eu não tinha Premiére e só me sobrou a Globo do Rio no radinho, enquanto via o Paulistão na TV.
Lembro como se fosse hoje a narração do Garotinho José Carlos Araújo no momento da falta. Olhava para a TV, mas focado no radinho, até que ele falou: "Pet na bola... Atirou, entrou!". No que escutei o barulho da torcida, nem ouvi o Garotinho gritar gol. Joguei meu radinho para cima e estourou no teto. Fui para o meio da rua pular, gritar e esqueci do fim do jogo. O problema é que eu não tinha mais radinho.
Fiquei esperando a transmissão da Globo informar que tinha acabado no Maracanã. Até que o narrador disse: "Lá no Rio de Janeiro, o Flamengo é tricampeão". Foi uma loucura! Eu não lembro de 1992 e até aquele momento era minha maior alegria como torcedor. Resolvi eternizar e fiz uma tatuagem que remete ao momento da cobrança da falta. É um símbolo para relembrar o que senti neste dia".
"O dia 27 de maio para mim é o dia de São Pet. Em 24 de maio de 2001, fui acometido de uma grave crise respiratória e encaminhado para a Clínica São Victor, na Tijuca. Assim que dei entrada, me levaram correndo para a emergência e tiveram que me reanimar. O estado era muito grave, com risco de morte naquele momento. Quando acordei, já estava no CTI, onde fiquei até o dia 27.
Meu irmão e meu sobrinho foram me visitar e eu estava com o braço cheio de aplicações de soro e remédios, além do aparelho de oxigênio. Assim que vi meu irmão, tirei aquilo do rosto e pedi que me tirasse dali para ver o Flamengo x Vasco. Ele logo me deu um esporro por conta do estado em que eu me encontrava, me chamou de louco. De tanto eu insistir, ele falou alguns palavrões e se dirigiu à cabine do médico responsável.
Eu ouvi uma gritaria, até que de repente entrou um médico chamando-o de louco, irresponsável, e mandou a enfermeira levá-lo ao escritório para assinar um termo de responsabilidade por algo que pudesse acontecer comigo.
Vi o jogo e não podia deixar de comemorar aquele título. Pedi ao meu sobrinho para me levar na calçada para ver a movimentação, só que dali saímos e rodamos por vários pontos do Rio de Janeiro. Só voltamos às 6h de manhã. Dormi e, quando acordei, já não sentia nenhuma dor, inacreditavelmente. São Pet havia me curado com seu pé direito".
"Frequento o Maracanã desde 1978. Meu primeiro jogo foi a final do gol do Rondinelli. Sempre fui de arquibancada, não gosto de ficar em camarote ou cadeira. Digo isso porque nesse dia 27 de maio de 2001 todos os ingressos estavam esgotados, não tinha mais nada, e ainda assim fui com minha esposa para o Maracanã.
Em cima da hora, conseguimos dois ingressos nas antigas cadeiras azuis. O Maracanã estava em obras e existiam pilastras redondas enormes no último local que conseguimos ficar. Estávamos ali, bem atrás, mas foi um jogo tão eletrizante que não era preciso narrar para saber como foi. Até que chegou o momento da falta...
Petkovic comemora o gol do tri - Hipólito Pereira / O Globo
Juro que na posição em que eu estava não conseguia ver nenhum dos dois gols, mas na falta eu senti que sairia o gol. Subi na minha esposa e consegui ver o momento que gerou uma das maiores emoções da minha vida. O gol do Pet! No momento da batida, falei com minha esposa que, se a bola entrasse, o nome do meu filho seria Dejan Petkovic. Não me arrependo nem por um minuto disso. Hoje, tenho um Pet só meu, o meu Petinho!"
"O dia do gol do Pet foi muito especial. Lembro que quando saí de casa, minha mãe estava ouvindo uma canção do Geraldo Vandré e fui para o Maracanã acreditando que seríamos campeões. O torcedor rubro-negro tem uma confiança que o faz diferente dos outros.
Ali, em cima do ferro para puxar a torcida, todo mundo da Raça Rubro-Negra, começamos a cantar e incentivar a equipe. O Vasco tinha um timaço, mas nunca desacreditamos. No momento da falta, todo mundo sabia: "Só temos essa chance. É a última". O Pet me cobra daquela maneira, coloca a bola no único lugar que podia entrar, lá na coruja!
Lula faz o sinal da cruz segundos antes do gol – Reprodução
Na posição em que eu estava, não tinha facilidade para entender que tinha sido gol. Só vi a bola entrando, mas o que me fez comemorar foi a reação de quem estava atrás do gol. Por eles gritarem e ter vindo quase uma "ola" abraçando o Maracanã, me encontrou e não teve como. Eu desabei abraçado a outros companheiros, chorando. Quem vai dizer que homem não chora? Chorei para caramba! Foi meu grande momento de arquibancada, me marcou muito. Sou muito grato por ter meu nome relacionado a este gol".
"Minha relação sentimental com o Pet já vinha desde quando ele chegou ao Flamengo por conta daquele jogo que o Flamengo venceu o Vasco por 4 a 0 em 2000. Era o dia do meu aniversário e nunca vou esquecer, estava muito ansioso, era um clássico numa sexta-feira à noite. E foi a maior goleada até hoje que já vi do Flamengo sobre o Vasco. Ele decidiu esse jogo com dois gols, inclusive um de falta.
No ano seguinte, veio o jogo do tri, eu tive as minhas duas maiores emoções da vida até o gol do Gabigol na Libertadores em um espaço de duas semanas. Minha filha nasceu duas semanas antes do gol do Pet.
Na final, mesmo tendo perdido o primeiro jogo, a confiança era muito grande. Tinha tempo que eu não sentia isso no estádio, era algo quase unânime, e o Vasco tinha um time melhor. Aconteceu aquilo de o Flamengo fazer 1 a 0, o Vasco empatar no último lance do primeiro tempo, o 2 a 1 na volta do intervalo, mas o tempo passava e nada do gol. Até que surgiu aquela falta aos 43. É o que o Pet fala: "Era o gol ou nada!". Se não sai ali, o Vasco seria campeão.
Bandeirão em referência ao gol do Pet hoje é visto na arquibancada rubro-negra – Divulgação
Quando saiu o gol, minha reação foi não conseguir comemorar Isso só me aconteceu duas vezes: nessa e na final da Libertadores. Só desabei na arquibancada. Não pulo, não grito, não abraço ninguém, apenas caio no meio da multidão e vou aos prantos. A ficha só vai caindo depois que o jogo acaba e aos poucos. Foi antológico, inacreditável, impressionante.
Depois, o Pet ainda volta e faz tudo que fez em 2009 com a camisa 43... Nós criamos uma relação muito forte com ele e fizemos camisa, bandeira para ele, bandeira da Sérvia, mosaico na despedida dele"
Por Cahê Mota – Rio de Janeiro
*Redação: blogjrnews.com