Alteração na Unidade Prisional do Puraquequara teve início às 6h deste sábado (2). Não há registro de mortes, diz governo.
Detentos da Unidade Prisional do Puraquequara, em Manaus, iniciaram uma rebelião com reféns na manhã deste sábado (2). Segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), sete agentes penitenciários são feitos reféns. Não há informações sobre mortos.
A rebelião teve início por volta das 6h, durante o café da manhã, quando detentos serraram a grade de duas celas e avançaram nos agentes, diz a Seap. A UPP tem, atualmanete, 1.079 presos. Segundo familiares de presos, a rebelião é para exigir melhores condições dentro do presídio.
Fora das celas, os presos se aglomeram em torres de caixa d'água que ficam localizadas na área externa do presídio, onde protestam com reféns. Ainda não há uma estimativa de quantos internos estão envolvidos no motim.
Em nota, a Secretaria de Administração Penitenciária informou que os presos "exigem a presença da imprensa e dos direitos humanos".
Nas redes sociais circulam vídeos em que aparecem os supostos agentes dentro do presídio. Eles avisam que estão bem e reforçam o pedido dos presos.
Por volta das 10h, o presidente da comissão de direitos humanos da OAB-AM, Epitácio Almeida, conseguiu autorização para entrar no presídio.
Em maio do ano passado, durante um massacre que matou 55 detentos em diferentes presídios da capital, seis dos mortos estavam presos na Unidade do Puraquequara.
Atuam no local o Grupo de Intervenção Penitenciária (GIP), forças de segurança da Polícia Militar e o Corpo de Bombeiros.
Famílias denunciam más condições
Ao G1, parentes de presos que acompanham a movimentação do lado de fora do presídio afirmam que o grupo reivindica melhores condições. Eles denunciam também que é possível ouvir, em dias comuns, gritos de detentos pedindo água e comida. A Seap não comentou a denúncia.
Mãe de detento, Maria do perpétuo socorro, disse ao G1 que o filho está preso na UPP desde o dia 31 de janeiro. Ela ficou sabendo da rebelião pelos noticiários na televisão. Ela compareceu até a porta do presídio para aguardar mais notícias. “Estou preocupada porque ele já teve pneumonia. Da última vez ele reclamou que faltava comida, água e remédio”, lamentou a mulher.
Segundo a irmã de um dos detentos, o rapaz de 32 anos é hipertenso e não tem recebido a atenção necessária. Ela se diz preocupada com o avanço da contaminação por coronavírus nas unidades prisionais. “Transferiram um detento daqui para outro, sabendo que lá teve um caso confirmado de Covid-19. Como eles fazem isso?”, questionou.
Entre as principais queixas dos familiares, estão a falta de informações sobre a rebelião, a dificuldade de manter contato com os presos pelo telefone e as péssimas condições relatadas pelos mesmos.
Desde o dia 13 de março todos os presídios do Amazonas estão com visitas suspensas, como medida de prevenção ao novo coronavírus. Desde então, presos só se comunicam com a família por vídeoconferências.
No início deste mês, um túnel que estava sendo cavado pelos detentos da mesma unidade foi descoberto pela Seap, impedindo uma tentativa de fuga. Na ocasião, um homem foi detido e nenhum preso conseguiu fugir. Para evitar fugas, a Seap retomou o patrulhamento diário nas áreas de mata do entorno de todas unidades prisionais de Manaus.
Coronavírus, restrições e tensão no sistema
No Amazonas, dois presos já testaram positivo para Covid-19, apesar das medidas restritivas adotadas desde a chegada da pandemia ao estado. Um dos casos foi confirmado no Centro de Detenção Provisória I e outro em uma cadeia de Parintins, no interior.
Sem visitas e vivendo sob novas restrições como o isolamento de presos recém-chegados, o sociólogo e pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ítalo Lima, explicou que as tentativas de fuga poderiam ser comuns.
“As tensões são muito elevadas. Se a situação piorar, ela pode ficar incontrolável e o Sistema Prisional do Amazonas, apesar das intervenções Federais que acontecem também não apresentarem uma situação muito favorável em respeito à segurança. Acho que um reflexo da pandemia seria um motim”, comentou.
Foto: Reprodução/Rede Amazônica
Por Carolina Diniz, G1 AM
*Redação: blogjrnews.com