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Claudio Santoro: legado artístico e cultural do Amazonas
Arte & Cultura
Publicado em 19/11/2019

Uma escola de talentos que forma artistas nas áreas de dança, teatro, música popular e erudita, artes plásticas e cinema; no coração da Amazônia. O Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, fundado em 1998, já alcançou 125.232 pessoas, entre alunos inscritos nos cursos e público presente nas atividades; entre janeiro e outubro de 2019. Não por acaso, o lugar que respira arte e capacita cidadãos que propagam o Amazonas mundo afora, foi batizado com o nome de um dos mais reconhecidos maestros e compositores amazonenses, Claudio Santoro, que em 2019 completaria 100 anos, no próximo dia 23 de novembro.

 

É nas salas de aula do Liceu, no Centro de Convenções de Manaus (Sambódromo), que o legado artístico de Claudio Santoro é imortalizado ano após ano, ao longo de mais de duas décadas, por meio da capacitação e formação técnico-cultural de crianças, jovens, adultos e melhor idade; em cursos gratuitos, sob a coordenação da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.

 

Trajetórias de sucesso, histórias de sonhos alcançados e de outros a serem conquistados são encontradas com facilidade, seja entre os alunos matriculados atualmente, ou entre os ex-alunos, já consagrados em suas carreiras artísticas. Uma delas é a do maestro Átila de Paula, que em 2019 se tornou o primeiro amazonense a reger uma ópera no Festival Amazonas de Ópera (FAO).

 

“Eu entrei no Liceu por volta de 2004, passei dois anos lá. Estudei, na época, violino, por incentivo de uma amiga. Nós estudamos violino e prática de orquestra. Isso foi fundamental para toda a minha trajetória musical que seguiu. Ali foi o local em que a sementinha foi plantada, onde os sonhos foram virando realidade. É uma porta aberta para qualquer cidadão simplesmente realizar um sonho. Com certeza ali, naquele lugar, naquele espaço, tudo iniciou de uma maneira muito orgânica e natural. Foi a base de tudo”, frisou o maestro.

 

Ao destacar a importância do Liceu para a educação cultural dos jovens do Amazonas, Átila de Paula conta que sonha poder ensinar para outros jovens o que aprendeu no Claudio Santoro. “O papel do Liceu é um papel de educação civil, de educação moral de um ser humano, da nossa população em geral. Uma das coisas de que eu gostaria muito, para o futuro, é me envolver mais com o Liceu, com a pedagogia, tentar transmitir um pouquinho dessa bagagem para as novas gerações e quem sabe, plantar umas sementinhas de jovens que possam trazer mais orgulho para o estado”, afirmou.

 

Melhorias – No ano do centenário de Claudio Santoro, o Liceu ganhou novos cursos, espaços específicos para ensaio do Núcleo de Teatro e Balé Jovem, além de uma galeria com exposição permanente, na Casa das Artes.

 

 

“A nova gestão veio com um olhar mais cauteloso em relação às ações do Liceu. Um exemplo é o Balé Jovem Claudio Santoro, que é um corpo de dança que não existia, mas que sempre houve uma necessidade de termos, um grupo para colocar os alunos avançados. Começamos a Orquestra Jovem Claudio Santoro, que é uma coisa que não existia mais. Fizemos uma sala de teatro, hoje eles têm uma sala em que eles podem ensaiar e fazer suas apresentações”, comentou o diretor técnico-artístico do Liceu, maestro Davi Nunes.

 

Novos cursos – Entre os destaques da grade de 2019 estão os cursos inéditos de Percussão Amazônica e Teatro Musical, um dos mais concorridos entre os alunos. “É um curso de que nós tínhamos uma demanda muito grande, várias pessoas procurando, querendo estudar não somente o teatro, mas dança e música no mesmo curso, onde o artista pode ser mais completo”, disse Davi Nunes.

 

A estreia da primeira turma de Teatro Musical nos palcos foi no dia 27 de setembro, no Teatro Amazonas, com o espetáculo “Julieu e Romieta”. Um dos alunos é o cantor e ator Lorenzo Fortes, 15, que fazia aulas de Teatro, mas decidiu se inscrever na turma de Teatro Musical logo no início do curso.

 

“Graças a Deus consegui entrar, está sendo uma experiência maravilhosa. É um curso muito completo, que abrange três tipos de artes, então estou gostando demais. É uma escola muito boa, tem profissionais excepcionais, muito bons aqui. Todo mundo que está aqui é realmente para aprender e gosta bastante”, frisou o jovem.

 

Variedade – Além das novidades, alguns dos cursos que continuam sendo disponibilizados são Guitarra, Violão, Bateria, Trompete, Piano, Teclado, Violino, Flauta, Saxofone, Cavaquinho, Iniciação Teatral, Caricatura, Desenho e Pintura Artística, Pintura em Aquarela, Balé Clássico, Capacitação em Dança, Dança Contemporânea, Dança de Salão, Jazz e Coral.

 

Aos 10 anos, a estudante da 5ª série do Ensino Fundamental, Karine Alfaia, pratica violino desde 2017. “A importância do Liceu é que aqui a gente aprende várias coisas. Os professores são muito bons e ensinam muito bem, a gente vai aprendendo cada vez mais, para poder ter um futuro melhor. Meu sonho é ser violinista e ser famosa com o instrumento”, disse ela, que está entre as mais dedicadas da turma.

 

De geração a geração – O violinista Giovanny Conte, que atualmente integra a Amazonas Filarmônica, teve a base de sua formação musical constituída no Claudio Santoro, onde estudou de 1999 a 2004 e foi professor em 2006. O talento para as artes foi herdado pela filha, Marianah Conte, que também inspirou a enteada de Giovanny, Manuelle Martiniano.

 

“Enquanto pai, é um orgulho você ver os seus filhos podendo tocar aquela musiquinha que eles tanto querem em confraternizações da família. Eles mesmo desejarem se apresentar para a família, é bem gratificante, o coração vai a mil, os olhos ficam marejados. É a felicidade que poder estudar música traz”, avaliou o músico.

 

Depois da formação no Liceu, Giovanny fincou raízes na carreira profissional e estudou em países como Bulgária, França e Itália. “O Liceu tem um papel primordial na educação dos jovens manauaras. Não é só uma questão de aprender um instrumento, vai muito além disso. Vai do enriquecimento cultural que esse estudo permite, o desenvolvimento motor e como ser humano. Tudo isso com os profissionais qualificados dentro do Liceu, toda a equipe pedagógica que acompanha esses jovens, os professores, todos eles formados, profissionais adequados para ajudar quem deseja trilhar esse caminho da música”, reforçou.

 

Outras unidades – Além das salas de aula do Sambódromo, as turmas são divididas em outros três polos diferentes: Centros Estaduais de Convivência da Família Padre Pedro Vignola e Magdalena Arce Daou, e Centro de Convivência do Idoso de Aparecida. Em parceria com a Biblioteca Braille, o Claudio Santoro oferta, ainda, cursos de Teclado e Violão para pessoas com deficiência visual, por meio de uma metodologia dinâmica e apoio de acervos em braile.

 

 

No interior, o Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro tem unidade em Parintins, onde está instalado nas dependências do Centro Cultural de Parintins, o Bumbódromo. O polo foi inaugurado em 2013 e atende alunos e população em geral de Parintins e municípios adjacentes como Nhamundá, Maués, Boa Vista do Ramos e Barreirinha.

 

Atualmente, o Liceu de Artes Parintins tem 2.672 alunos matriculados e disponibiliza acesso a espaços como biblioteca, galerias de arte, memorial de Caprichoso e Garantido, salas multimídia e cineclube. Entre janeiro e outubro de 2019, a unidade atendeu 34.917 pessoas por meio das atividades de capacitação, projetos pedagógicos, cessões de uso e serviços.

 

Sobre Claudio Santoro – Claudio Franco de Sá Santoro nasceu em Manaus, no dia 23 de novembro de 1919. Na adolescência, destacou-se na cidade participando de recitais e ganhou uma bolsa de estudos para estudar música no Rio de Janeiro, de onde, anos depois, seguiu para o mundo com sua música. Foi maestro, compositor, professor.

 

Recebeu diversos prêmios e condecorações no Brasil e no mundo; foi fundador e maestro titular das Orquestras de Câmara da Rádio MEC e da Universidade de Brasília; das Orquestras Sinfônicas da Rádio Club do Brasil e do Teatro Nacional de Brasília; e membro da Academia Brasileira de Música, da Academia Brasileira de Artes e da Academia de Música e Letras do Brasil, da qual foi presidente.

 

Também regeu, como convidado, as mais importantes orquestras do mundo, entre elas a Filarmônica de Leningrado, Estatal de Moscou, RIAS Berlin, ORTF Paris, Beethovenhalle Bonn, Sinfônica da Rádio de Praga, Filarmônica de Bucareste, Filarmônica de Sofia, PRO ART (Londres), Île de France (Paris) e Filarmônica de Varsóvia. Santoro faleceu no dia 27 de março de 1989, em Brasília, regendo, durante o ensaio geral do primeiro concerto da temporada.

 

O centenário – A edição de 2019 do Festival Amazonas de Ópera foi dedicada aos 100 anos de Claudio Santoro. Em toda sua extensa carreira, o maestro amazonense Claudio Santoro criou apenas uma ópera, “Alma”, baseada na obra de Oswald de Andrade. Em 1998, foi realizada a primeira montagem, no segundo FAO. Em 2019 uma nova versão foi apresentada, após a entrega de um manuscrito inédito.

 

“Alma” foi apresentada pela Amazonas Filarmônica, Corpo de Dança do Amazonas e Coral do Amazonas, com a regência dos maestros Marcelo de Jesus e Otávio Simões.

 

As homenagens também ultrapassaram as barreiras do Amazonas e aconteceram em lugares como o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, onde a Orquestra Sinfônica fez única apresentação em junho. O concerto “Santoro 100 anos: prelúdios e canções de amor” relembrou as obras “Ponteio”, “Canto de Amor e Paz”, “Mini Concerto Grosso” e “Prelúdios e Canções de Amor”.

 

Em março a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais (OFMG) tocou a obra “Brasiliana” e, em abril, o “Concerto nº 1 para piano”, com o pianista Aleyson Scopel, em alusão ao centenário do artista.

 

“Claudio Santoro, o nome dado a nossa instituição, é um nome muito importante para o Amazonas, de reconhecimento nacional e internacional. Um compositor contemporâneo que nunca deixou suas raízes amazonenses. Apesar de cedo ter saído do Amazonas, ele influenciou e continua influenciando a muitos. Muito nos engrandece, como amazonenses, falar de um artista que representou tão bem o Amazonas. Só de você imaginar que Claudio Santoro compôs com Tom Jobim, com Vinícius de Moraes, isso nos orgulha”, ressaltou o maestro Davi Nunes.

 

O diretor técnico-artístico do Liceu completa: “A esposa dele (de Santoro) se alegra muito e tem orgulho de saber que, aqui no Amazonas, a maior escola de música do Norte do país é o Liceu de Artes e Ofícios Claudio Santoro, leva o nome do marido dela, o nome de um amazonense”.

 

FOTOS: Bruno Zanardo/Secom

*Redação: blogjrnews.com

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