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Em ano mágico, Reinier tem chance de realizar o sonho do pai no Flamengo: "Coração bate forte"
Esportes
Publicado em 12/11/2019

Joia vai da arquibancada para dentro do campo e tem a chance de na primeira temporada já conquistar um Brasileiro e uma Libertadores. Pai não conseguiu jogar no time de 81

 

Em seu primeiro ano de profissional, Reinier tem a chance de conquistar títulos que muitos jogadores consagrados não conseguiram. Com apenas 17 anos, ele está muito perto de levantar a taça do Brasileiro e no dia 23 disputa a final da Libertadores. Em um curto período, ele foi da arquibancada para dentro do campo e conquistou seu espaço.

 

Na derrota para o Peñarol, ele estava como torcedor no Maracanã. Nas oitavas de final, fez sua estreia profissional contra o Emelec, no duelo que classificou o time para as quartas, nos pênaltis. Ao todo, são 11 jogos e quatro gols marcados. O último no domingo, na vitória sobre o Bahia.

 

Eu não imaginava na mesma competição estar na torcida e depois em campo - afirmou Reinier.

De contrato renovado até 2024, a joia rubro-negra tem uma missão extra: realizar um sonho que o pai não conseguiu.

 

Em 1977, seu pai Mauro Brasília era um dos meninos que tentavam a sorte no juvenil do Fla, ao lado de jogadores como Mozer e Tita. Depois, a geração se transformou na mais vitoriosa da história do clube. Ele, no entanto, não conseguiu se profissionalizar e seguiu uma carreira vitoriosa no futsal. Agora, com o filho Reinier, seu caminho cruza novamente com o Rubro-Negro.

 

Vim para o Rio e fui morar na concentração do Flamengo. Era muito novo. Fiquei seis meses me dedicando, e no meio do ano o treinador achou que seria melhor eu fazer um estágio em Araraquara. Meu pai não aceitou e eu saí. Eu contei essa história para um diretor do Flamengo, e ele disse: "Seu filho vai agora completar a sua história dentro do Flamengo". Acho que eu poderia estar naquele grupo de 81, mas o destino vai premiar meu filho agora - disse Mauro.

 

No conforto de casa, Reinier ainda é um menino de 17 anos que busca aprovação dos pais a cada decisão e cada resposta. Em campo, cada vez mais mostra personalidade para ganha espaço com a camisa rubro-negra e despertar o interesse de gigantes europeus.

 

Confira a entrevista com Reinier:

 

GloboEsporte: como está a ansiedade para a final da Libertadores? Consegue tirar o River Plate da cabeça?

Reinier: É uma felicidade imensa participar dessa final com apenas 17 anos. Sou um privilegiado de estar com meus companheiros Rafinha, Gerson, Arão, Everton Ribeiro, Filipe Luís... e participar desse momento. Será muito importante para minha carreira e para o Flamengo. Espero que a gente consiga os títulos da Libertadores e do Brasileiro.

 

Contra o Peñarol, você estava na torcida. Pouco tempo depois, fez sua estreia no duelo com Emelec, até então o jogo mais importante do ano. Qual sua maior recordação?

 

Era o jogo mais importante, porque tínhamos perdido a primeira partida. Foi muito difícil, mas felizmente deu tudo certo. Pude estrear no Maracanã. O coração bate muito forte. Estádio lotado, necessidade do resultado... Foi uma estreia muito legal. Eu não imaginava na mesma competição estar na torcida e depois em campo.

 

A família ficou apreensiva? Com foi aquele momento de entrar em campo, estava muito nervoso?

Penso na minha família, na minha avó para ficar tranquilo. Ela assiste a todos os meus jogos. Eu lido bem com isso. Minha mãe que fica toda nervosa no camarote gritando (risos). Espero que eles possam ir a Lima para final.

 

Como você lidou com a situação de ficar fora do Mundial sub-17 e de ser alvo de uma disputa entre o Flamengo e a CBF?

Eu estava esperando ir para Seleção, mas, quando acabou o jogo, me comunicaram. Foi meio que um baque. Joguei Sul-Americano sub-15 e sub-17, e jogar um Mundial, ainda por cima na minha cidade... Minha família esperava muito, era importante para minha carreira. Mas eu entendi que era melhor para mim e para o Flamengo.

O foco sempre foi o Flamengo. Aí teve o jogo contra o Fortaleza e eu pude ajudar (com um gol). Foi uma felicidade. Deu tudo certo, e continuo na torcida pelos meus companheiros, mando mensagem direto. É o que mais importa. A amizade e a torcida nunca vão acabar.

 

Como foi o momento em que você ficou sabendo? Ligou para alguém, procurou alguém para conversar?

Eu mandei uma mensagem perguntando se teria que embarcar no dia seguinte. Aí me disseram que não. Depois me explicaram certinho. Na hora eu estava jogando videogame no quarto do Thuler. Tudo tem um propósito. Depois conversei com meu pai e meu staff e soube que tudo estava tranquilo.

 

Como é ser tão novo no meio de tantas estrelas?

Não imaginava estar no meio de jogadores assim. Às vezes olho e fico pensando comigo mesmo... "que felicidade estar aqui". Minha mãe e meu pai sempre queriam que eu estivesse com eles, aprendendo. Isso que mais quero, aprender com a experiência e humildade deles para ajudar os mais novos. São caras de grande caráter.

 

Qual jogador já te puxou de lado para uma conversa particular?

A maioria já fez isso. Gerson, Rafinha... ele é um cara que ajuda muito, fala bastante com todo mundo, se dá bem com todo mundo. O Bruno Henrique conversou quando fizemos a parceria no ataque. O Gabigol também. Bate uma felicidade você saber que eles querem ajudar um menino que chegou agora. Fico muito feliz.

 

 

Quem são seus maiores parceiros no elenco do Fla?

Todos são, o grupo é fera demais. Mas eu tenho mais proximidade ao Gerson e Thuler, que são meus vizinhos. Rodinei também me ajuda bastante. Às vezes vou para o treino com eles porque ainda não posso dirigir.

 

Acredita que a conexão com a torcida está diferente esse ano?

Está diferente sim. A torcida faz a diferença. Quando o adversário entra e vê, com certeza se assusta. Isso é Flamengo. Muita raça, muito amor. Nosso time está dando cada vez mais alegria aos torcedores.

 

Daqui a dez anos, onde imagina estar?

Quero estar na Seleção, buscando a excelência. Vou construir minha história. Não sei em qual clube vou estar, mas pretendo construir uma história no Flamengo, ser campeão pelo clube e estar na seleção principal, que também é um grande sonho.

 

E para o futuro próximo, o que espera?

Espero os títulos do Brasileiro e Libertadores. Vai ser uma felicidade enorme ganhar meu primeiro título profissional pelo Flamengo, com 17 anos. Depois veremos o que vai acontecer. Ano que vem já tem Carioca, pré-temporada... vamos deixar as coisas acontecerem naturalmente.

 

É raro um jogador de 17 anos ter a chance de ser campeão do Brasileiro, da Libertadores e possivelmente disputar um Mundial de Clubes. Já parou para pensar nisso?

Mundial não pensei, mas pensei nos títulos do Brasileiro e Libertadores. Até conversei com o Thuler e pesquisamos na internet, só que não achamos. Mas é algo que penso sim, e seria um feito muito importante. Se Deus quiser vai dar tudo certo para o Flamengo.

 

Como foi sua trajetória no Flamengo até chegar ao profissional?

Foi tudo muito rápido. Eu já estava no Rio, mas cheguei ao Flamengo em 2014. Fui me desenvolvendo aos poucos, e em 2015 já comecei a ganhar títulos e moral. Graças da Deus deu tudo certo, com muito trabalho e ajuda dos meus pais e do meu staff. Estou muito feliz com minha evolução. Chegar ao profissional era meu maior objetivo.

 

 

O que acha que foi seu diferencial para se destacar desde a base?

Assumir o jogo, chamar a responsabilidade. Fui construindo isso aos poucos. Fazer isso na base era mais fácil. Meus companheiros sempre me ajudavam também. Assumir o jogo é ir para cima, resolver. Era o que eu fazia. Felizmente deu tudo certo. Fui me destacando.

 

A vocação ofensiva do Flamengo de Jorge Jesus o ajuda no seu desenvolvimento?

Acho que sim. O mister é um técnico muito bom, joga sempre para frente e me sinto à vontade porque nos deixa jogar. Sabe o posicionamento que os avançados têm que ter. Fico bem solto com ele. Me ajuda bastante. Essa posição é um pouco nova para mim.

 

O mister já me chamou umas cinco vezes para conversar e foi importante para mim. Quando subi para o profissional, não sabia alguns movimentos, o que é natural. Sempre me ajudou. Ele me abriu uma forma de jogar que eu não sabia. Na base era completamente diferente.

 

Quais são esses movimentos que ele pede?

São alguns movimentos e posicionamentos que a minha posição exige. E também marcar. Jogar sem a bola é muito importante para ele. O grupo assimilou bem isso.

 

Depois do jogo contra a Chapecoense, ele te deu uma bronca ainda no campo. Depois, disse que era para você entender quem é que manda e que há horas certas para as "notas artísticas". Como você encarou essa situação?

Contra o Avaí ele já tinha me avisado que toquei muitas vezes de calcanhar. Aí, contra a Chapecoense, eu errei. Não era uma nota artística, é uma característica minha. Mas ele fez o certo, foi franco. Fico feliz de ele falar comigo, porque quer o meu bem.

 

Conversei também com o meu pai e fiquei bastante tranquilo. Sabia que era para o meu bem. Ele fez o certo. Para mim é uma honra trabalhar com ele, porque é inteligente e sabe lidar com os jogadores. O que mais importa é que ele faz o melhor para o time.

 

Qual ensinamento ficou deste episódio?

Eu refleti sobre o que aconteceu, conversei com meu pai... Tem a hora certa de fazer as coisas, né. Aos poucos, com a experiência, vai aprendendo. Estou aprendendo com o mister e com a equipe toda.

 

 

No que você se inspira no Kaká?

No estilo, na arrancada dele, na finalização... Contra o Grêmio, encontrei ele pela primeira vez. Saí correndo e dei minha camisa para ele. Tirei foto também. Fiquei muito feliz de encontrar . Sempre foi a minha referência, e meu pai também gosta muito dele.

 

Eu não esperava encontrar ele. O segurança me avisou que ele estava no vestiário, aí fui correndo falar com ele. Me parabenizou, deu incentivo e desejou sucesso na carreira. É uma felicidade enorme ver seu ídolo de perto.

 

Qual a influência do seu pai para você ter esse grande início de carreira?

Aprendi a amar o futebol. Ele já jogava e eu nasci já gostando do futebol também por causa dele. Sempre me apoiou. Com oito anos, me treinava em Brasília, mesmo sem estrutura. Ele é minha inspiração, é quem sempre esteve comigo. Já passou por muita coisa no futebol.

 

Em 2011, viemos só eu e ele para o Rio, a família ficou em Brasília. Foi muito difícil. Tínhamos que nos virar, ele teve até que aprender a cozinhar. Depois, em 2014, chegaram minha mãe e minha irmã. Agora está tudo melhor.

 

Há um ano você disputava o título da Copa do Brasil sub-17, e agora um novo mundo se abriu para você...

As coisas acontecem muito rápido. Aquele foi um campeonato difícil, com o Fluminense favorito. Ainda teve o problema da caxumba, mas fomos fortes e tudo deu certo. Depois de um ano, estou me preparando para uma reta final de Brasileiro e para final da Libertadores. Uma coisa que poucos passam. É um privilégio. Momento muito importante para mim, iniciando minha carreira profissional.

 

Foto: Reprodução / Instagram

Foto: André Durão

Foto: Alexandre Vidal/Flamengo

Foto: Matheus Grangeiro/Flamengo

Por Fred Huber e Gabriela Moreira — Rio de Janeiro

*Redação: blogjrnews.com

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