Em noite de estreia de itens oficiais, Boi da Baixa exaltou as lutas do povo
O Boi-Bumbá Garantido abriu a primeira noite do 54° Festival Folclórico de Parintins exaltando “O Boi das Lutas do Povo”, dentro do tema "Nós, o Povo".
A apresentação começou emocionante, com compositores entrando na Arena junto com Maria do Carmo Monteverde, que foram ocasionados pela galera vermelha e branca. Após, sob o som de um violinista que interpretou a toada imortal "Vermelho, o ator e compositor Marcos Moura declarou versos.
Maria do Carmo foi o ponto alto do início da apresentação fazendo um discurso de resistência cultural que seria a tônica da primeira noite.
"Meu pai era um humilde pescador e só eu sei a luta do meu pai contra o preconceito contra nosso Boi. Meu pai foi o herói da nossa cultura. Um mestre do povo, do nosso povo vermelho", disse ela para o público presente, arrepiando a todos.
A primeira alegoria do Boi Garantido veio surpreendente mostrando a Lenda Amazônica “O Curupira, Sete Espíritos", retratando o imaginário dos índios Tembé Tenetehara, que habitam o Maranhão e o Pará e se autodenominam “Povo Verdadeiro”.
A alegoria se transformou em floresta amazônica a estrutura criou vida em forma de Curupira e em outros seis espíritos: além do menino do cabelo de fogo e pés para trás, também em onça, gavião, jacuraru, camaleão, cobra e na própria Mãe Natureza, ele protege a fauna e a flora dos ataques de caçadores e predadores.
A alegoria foi concebida pelo artista de ponta Roberto Reis e equipe, e era uma das mais esperadas deste Festival: veio com 19 metros de altura, 44,8m de boca de cena e oito módulos, com participação de 60 dançarinos do Grupo Porantins, da cidade de Maués. A toada “Sete Espíritos”, do compositor Adriano Aguiar, embalou a teatralização do momento e destaque para o levantador de toadas Sebastião Júnior: ele veio fantasiado de Curupira. Mais próprio para o momento impossível.
A gigantesca alegoria da lenda também trouxe ninguém menos que a Cunhã-Poranga Isabelle Nogueira, que evoluiu para os aplausos da galera vermelha e branca. Ela veio transformada em Mãe Natureza.
Em seguida uma estreia: a de Adriano Paketá, o novo Pajé do Boi Garantido, que evoluiu junto com as tribos para um grande dabacuri. Uma surpresa de tirar o fôlego: três grandes tuchauas vieram para a arena içados por um gigantesco totem tribal. No entanto, a parte de cima de um dos tuchauas teve um princípio de incêndio que foi debelado rapidamente pelo Corpo de Bombeiros - um curto-circuito teria sido a causa segundo informou a corporação.
CELEBRAÇÃO FOLCLÓRICA
Na Celebração Folclórica, o Boi trouxe a “Aldeia Cultural” onde, de lutas e confrontos, a Amazônia renasce numa grande aldeia da diversidade cultural humana, onde repousam nossa ancestralidade, nossas origens, nossos costumes, formas, espíritos, corpos, saberes e fazeres.
O Garantido mostrou que a Amazônia se tornou uma grande Aldeia Cultural de índios, negros, brancos, orientais, europeus, africanos, árabes, judeus, mestiços de toda sorte. Foi celebrada a comunhão de todos que aqui chegaram e que, de alguma forma, deram sua contribuição para a formação social e cultural da região. A alegoria foi criação de Francinaldo Guerreiro e Iran Martins, com 19 metros de altura, 50m de boca de cena, nove módulos, 104 dançarinos é um muito importante: do meio de um origame gigante saiu uma garça na qual veio o Boi Garantido.
Na alegoria, veio a Sinhazinha da Fazenda, Djidja Cardoso, que evoluiu para o cantar do novo Amo do Boi, Gaspar Medeiros. E mais: saindo de dentro de uma parte da alegoria que representava a cúpula do Teatro Amazonas veio para a Arena a Porta-Estandarte Edilene Tavares.
Na hora da evolução, com movimentos reais de um boi na Arena, o Boi Garantido até piscou para o público e jurados. Um resgate: parte da Vaqueirada veio sem lanças, somente com laços, como mandava a tradição inicial, já que os lanceiros só viriam anos depois.
ROSAS VERMELHAS
A toada "Rosas Vermelhas" foi cantada lindamente por Márcia Siqueira, Roci Mendonça e pela apresentadora da TV A Crítica, Naiandra Amorim.
FIGURA TÍPICA REGIONAL
O Garantido trouxe como personagem da Figura Típica Regional "O Juteiro", representando a transfiguração do koutakusei, imigrante japonês que veio para a Amazônia e se transformou no caboclo plantador de juta. Figura tipicamente amazônica, o juteiro surge com a instalação na região do Instituto de Agronomia do Japão, no governo de Getúlio Vargas.
Os koutakusei chegaram em Parintins em 1931 e iniciaram o plantio da juta trazida da Índia na Vila Amazônia. Ryota Oyama fez germinar as primeiras sementes e ficou clonhecido como “Pai da Juta”. A toada “Povo de Fibra", de Geandro Pantoja, Demétrios Haidos e Jacinto Rebelo, foi a escolhida para refletir, em canção, a força que a saga japonesa representou na formação do biótipo regional do juteiro da Amazônia.
Uma arraia gigante conduziu a Rainha do Folclore, Brenda Beltrão, à área de evolução, sob os aplausos da torcida do vermelho e branco.
RITUAL
A apresentação da primeira noite do Garantido vai finalizar com o grandioso ritual “Kawahiwa”, na batalha dos habitantes do rio Tapajós contra a mã sorte, ou “panema”. No ritual, o pajé transcende ao mundo ancestral da Amazônia paleolítica dos grandes animais e feras devoradoras de gente, num ambiente de seres míticos fantásticos. Adriano Paketá foi ovacionado em mais uma bela evolução.
A estrutura foi construída pelo artista de ponta Marialvo Brandão e equipe, com 20m de altura e 30m de boca de cena, com oito módulos.
O Boi Garantido fechou sua primeira noite com o tempo de 2h29min36 e o apresentador Israel Paulain exaltando os itens individuais e a galera vermelha e branca já gritando "É campeão!".
Foto: Euzivaldo Queiroz
PAULO ANDRÉ NUNES
*Redação: blogjrnews.com