São várias as obras de Rel Tavares espalhadas por Parintins, seja do lado azul, seja do lado vermelho da Ilha Tupinambarana
Quando era criança em Parintins, o então garoto Renilson da Silva Tavares, sem dinheiro para comprar um pincel, iniciou no mundo da arte utilizando, de forma improvisada, o talo cortado e desfiado na ponta de um mato conhecido como “Vassoura de Bruxa”. Hoje, aos 46 anos, Rel Tavares, como é conhecido, é um conceituado artista escultor de bois na Ilha Tupinambarana.
“Sou natural de Nhamundá (a 381 quilômetros de Manaus) e aos 6 anos de idade fui morar em Parintins. Eu e meus pais não tínhamos condições financeiras, então, achei essa alternativa de fazer do matinho o pincel para pintar. Eu pegava ele, cortava, batia a ponta e ficava igual a um pincelzinho. Essa era a minha realidade. Eu pintava umas telinhas pequenas e minha professora, na época, comprava de mim. De primeiro, quando não havia fraldas, eu e meu irmão pegávamos coeiros para fazer nossas telinhas e pintar ”, explica o artista que integra o time de artesãos do Boi Caprichoso.
Herança de avó
Sua avó, Maria de Nazaré, era artesã, daí ele ter herdado o conhecimento. “Acho que adquiri esse conhecimento da minha avó, que fazia esculturas como panelas de barro e eu a acompanhava. Íamos para a beira do barranco, cavávamos um buraco e ela fazia uns bonequinhos, e deixava lá. Ela dizia que era pra ‘Mãe do Barro’, que judiaria da gente se não deixássemos uma oferenda para ela”, relembra ele.
A realidade que viria anos depois seria de oportunidades e reconhecimento. Em 1988, entrou para a tradicional Escola de Artes Irmão Miguel de Pascalle para aprimorar o conhecimento que já possuía. “Nesse ano eu trabalhei no boi contrário (Garantido)”, relembra ele.
Com o passar dos tempos passou a admirar o trabalho do artista da Comissão de Arte do Boi Garantido, Jair Mendes, que criou os movimentos do boi-bumbá (“Boi Biônico” do Garantido) e nas alegorias do Festival de Parintins. “Eu o admiro e ele passou a me admirar também”, conta ele, sobre o Mestre Jair, como o ídolo é chamado.
São várias as obras de Rel Tavares espalhadas por Parintins, seja do lado azul, seja do lado vermelho da Ilha Tupinambarana. No lado do Caprichoso, por exemplo, é dele a reforma da escultura do boi na rua Rio Branco, reduto azul e branco de Parintins. Do vermelho, há menos de um mês ele concebeu um Boi Garantido em tamanho real na rua Armando Prado, tradicional localidade rubra.
É dele, também, parte das esculturas do lado azul do muro que cerca o Bumbódromo de Parintins: o próprio Boi Caprichoso, um pescador, um cortador de juta e uma serpente feita em parceria com Jair Mendes.
Evoluções e criações
Rel Tavares acompanhou várias evoluções no Festival de Parintins. Ele é de uma época na qual o galpão do Caprichoso tinha poucas pessoas trabalhando. “A evolução no boi começou na década de 1990 pra cá. Antigamente, trabalhavam, no máximo, 12 pessoas no galpão; hoje, são 150 pessoas, até 200 quando é possível”, pontua ele, que já n egou convites para fazer esculturas em escolas como a Viradouro e por um dos maiores carnavalescos do País em todos os tempos: Joãosinho Trinta: “Foi em 1992, mas eu não quis, fiquei com medo”.
Mas, para quem é talentoso, os convites sempre surgem. Alguns anos depois, foi recrutado para atuar na confecção de carros alegóricos em desfiles na cidade de Ijuí (RS) e, desde o ano passado, é um dos artistas da escola de samba paulista Águias de Ouro – no ano passado, confeccionou peças como as máscaras emborrachadas de alegorias. E, neste, placas laterais, por exemplo.
Suas duas últimas criações são os próprios bois Garantido e Caprichoso, em fibra: ambos ficarão expostos na Expoarte, exposição organizada pela Associação dos Artistas Plásticos de Parintins (AAPP), localizada na avenida Amazonas. “Esses bois são feitos de 100% fibra e pesam cerca de 15 quilos cada”, explica o artista.
Para ele, a arte representa tudo. E a cultura bovina move tudo. “Eu sobrevivo da arte, Ela representa tudo para mim, hoje. Criei meus filhos e minha família através da arte. É a minha vida. Hoje o boi não move só Parintins, mas todo o Estado do Amazonas. Pra mim é muito importante e eu admiro. E independente de preferência bovina eu respeito o boi adversário”, salienta o escultor.
Foto: Euzivaldo Queiroz
Imagem: Divulgação
Por: PAULO ANDRÉ NUNES/Acritica
*Redação: blogjrnews.com