Ainda não se sabe o que causou as chamas na catedral, cuja reconstrução já começa a ser planejada pelo governo francês
O incêndio que arrasou parte da catedral de Notre-Dame, em Paris, foi controlado nesta terça-feira (16), mas ainda persistem dúvidas sobre a resistência da estrutura deste símbolo da cultura europeia e testemunha da história da França – cujo governo começa a planejar a reconstrução do templo.
O porta-voz do Corpo de Bombeiros de Paris, Gabriel Plus, anunciou que o incêndio foi totalmente apagado na manhã desta terça, no horário local, após quase 10 horas de combate às chamas. Segundo ele, a perícia já começou a trabalhar na catedral.
Pilhas de escombros
Plus detalhou um balanço material "dramático": segundo ele, todo o teto foi atingido, parte da abóbada caiu e "a flecha não existe mais". As duas torres emblemáticas permaneceram de pé, assim como a grande rosácea da fachada sul, mas uma porta parcialmente aberta permitiu observar uma pilha de escombros e algumas vigas no chão.
Causas do incêndio
Ainda não se sabe o que causou as chamas. Inicialmente, segundo informou o jornal francês Le Monde, o fogo teria se originado nos andaimes atualmente instalados na parte superior do prédio para trabalhos de restauração.
Já de acordo com os bombeiros, em um primeiro momento, o incêndio estaria "potencialmente relacionado" às obras na edificação. Mais tarde, a corporação diria que o foco havia sido o recinto conhecido como "floresta", onde ficam as 1,3 mil vigas de carvalho que desde meados do século 13 sustentam o prédio – são sua "ossatura".
Elas "seguram" um teto de chumbo que teve dois terços de sua superfície destruídos na segunda-feira. O emaranhado de madeira possui dimensões maiúsculas: mais de 100 metros de comprimento, 40 metros de largura no transepto (e 13 metros na nave), além de 10 metros de altura.
Comoção
No entorno da Notre-Dame, que fica em uma ilha no meio do rio Sena (a Île de la Cité), o clima cerca de uma hora depois de o fogo se propagar era de consternação. Com olhos esbugalhados, centenas de pessoas tiravam fotos e faziam vídeos da igreja em chamas, e algumas choravam copiosamente.
O silêncio solene da audiência era entrecortado por sirenes de carros de bombeiros, ambulâncias e viaturas policiais, além de berros de agentes que tentavam ampliar o perímetro de isolamento em torno do edifício, evacuando pontes e ruas de acesso próximas.
A atmosfera de desorientação e tensão lembrava muito a da noite de 13 de novembro de 2015, quando uma sequência de atentados, sobretudo na região nordeste da capital francesa, deixou mais de 130 mortos.
Na imprensa local, jornalistas recorriam a fórmulas como "Paris está desfigurada" e "o coração da cidade arde".
Reconstrução
A mesma emoção contaminou um pronunciamento do presidente Emmanuel Macron, diante da catedral, por volta das 23h30min (18h30min no Brasil).
Vamos reconstruir Notre-Dame, porque é o que os franceses esperam, é o que a nossa história merece, é o que nosso destino pede — afirmou, com a voz embargada, pouco depois de anunciar que um fundo para os trabalhos começaria a receber doações do mundo todo.
Chefes de Estado e de governos de Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, entre outros, enviaram condolências aos franceses. Antes, Macron adiou um anúncio que faria nesta segunda-feira, na TV, sobre medidas econômicas para aplacar os protestos liderados pelos "coletes amarelos".
Tesouros de Notre-Dame
A catedral de Notre-Dame guarda várias relíquias veneradas pelos católicos, um órgão de notáveis dimensões e numerosas obras de arte. A réplica mais valiosa guardada no templo é a Santa Coroa, que os católicos acreditam que foi usada por Jesus pouco antes de ser crucificado.
Esta relíquia escapou das chamas desta segunda-feira, assim como a túnica de São Luís, um dos reis mais famosos da França, que também é guardada na catedral, segundo seu reitor. Além da Santa Coroa, Notre-Dame conserva outras duas relíquias da Paixão de Cristo: um pedaço da Cruz e um cravo.
Por outro lado, o galo que ficava no topo da torre que caiu nesta segunda-feira trazia no topo a Coroa de Espinhos, uma relíquia de San Dionísio e outra de Santa Genoveva.
Foto: Francois Guillot/AFP
Mundo/GAUCHAZH