O presidente Jair Bolsonaro exonerou o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. No desenrolar do caso sobre supostas candidaturas laranja do PSL, a crise se agravou na quarta-feira (13), quando um filho de Bolsonaro chamou Bebianno de mentiroso e o próprio presidente endossou a acusação.
O ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, madrugou no Palácio da Alvorada e ficou lá por meia hora. O assunto era a crise em torno do ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno. Jair Bolsonaro seguiu para o Planalto. Teve três reuniões pela manhã. Pautas distintas, mas o caso Bebianno pairou o tempo todo.
Depois de um encontro com Bolsonaro, o vice, Hamilton Mourão, confirmou. A exoneração de Bebianno era questão de horas.
“De hoje não passa”.
A crise começou com as denúncias de candidatos laranjas do PSL, partido de Bolsonaro, que foi presidido por Bebianno durante a campanha eleitoral. E foi ampliada por influência de um dos filhos do presidente. Bebianno foi chamado de mentiroso por Carlos Bolsonaro e depois até por Jair Bolsonaro. O ministro se desgastou com o episódio.
As divergências entre ele e o filho do presidente, o vereador carioca Carlos Bolsonaro, começaram já na transição de governo. Bebianno acabou sendo indicado ministro da Secretaria-Geral da Presidência, enquanto Carlos, em novembro, deixou a equipe de transição e ficou sem cargo no governo.
Gustavo Bebianno tem 54 anos e é advogado. Ele foi apresentado ao então candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, em 2017. Bebianno se ofereceu para atuar de graça em processos judiciais de Bolsonaro. Acabou se tornando uma das pessoas mais próximas do candidato durante a campanha eleitoral.
Foi um dia inteiro à espera do anúncio oficial da exoneração de Bebianno. Demorou porque estavam costurando um jeito menos traumático para a saída.
“O excelentíssimo senhor presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, decidiu exonerar, nesta data, do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, o senhor Gustavo Bebianno Rocha. O senhor presidente da República agradece sua dedicação à frente da pasta e deseja sucesso na nova caminhada”, anunciou o porta-voz, Otávio de Rêgo Barros.
O porta-voz leu a nota e deu poucas explicações.
“O motivo da exoneração do ministro Bebianno é de foro íntimo do nosso presidente”.
A mesma suspeita de uso de candidatos laranjas recaiu primeiro sobre o ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também do PSL, mas ele permanece ministro, e há crítica de tratamento diferenciado para os dois casos.
“Embora seja de foro íntimo, também é um tema público, a razão do desentendimento do ministro com o presidente. Se foi a questão do partido, é o mesmo laranjal do ministro do Turismo. E sobre ele ninguém fala nada”, perguntou a repórter.
“O nosso presidente demandou o tempo necessário para consecução da sua decisão em função de vários atores, de várias ações, e é natural que, pensando em nosso país, isso se faça de forma mais consensual e ao mesmo tempo mais maturada possível”, disse o porta-voz.
O substituto de Gustavo Bebianno será o oitavo ministro na equipe de Bolsonaro vindo das Forças Armadas. General da reserva, Floriano Peixoto, que já ocupava a secretaria executiva, passa a ser o titular da Secretaria-Geral da Presidência.
No Planalto, dos quatro ministros, só Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, não é militar.
Logo depois do anúncio da demissão, o próprio Bolsonaro falou sobre Bebianno num vídeo gravado. Como se esperava, apesar dos conflitos nos últimos dias, o presidente fez um discurso e justificou o rompimento com a ruídos na comunicação.
“Comunico que, desde a semana passada, diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação. Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal-entendidas de parte a parte, não sendo adequado pré-julgamento de qualquer natureza. Tenho que reconhecer a dedicação e o comprometimento do senhor Gustavo Bebianno à frente da coordenação da campanha eleitoral em 2018. Seu trabalho foi importante para o nosso êxito. Agradeço ao senhor Gustavo pelo esforço e empenho quando exerceu a direção nacional do PSL. E continuo acreditando na sua seriedade e qualidade do seu trabalho. Reconheço também sua dedicação e esforço durante o período que esteve no governo”.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, tem dito que repudia veementemente todas as acusações e que não tem qualquer vínculo pessoal com as supostas candidaturas laranja.
Foto: Fátima Meira/Futura Press
Por Jornal Nacional