Ouvir rádio

Pausar rádio

Offline
Publicado em 03/02/2019

Laudo técnico da Georadar que chegou ao alto escalão da empresa apontava diversas irregularidades na barragem, inclusive problemas estruturais

 

Há, ainda, muitos pontos a ser esclarecidos em relação à tragédia de Brumadinho. Um dos mais graves é sobre o laudo técnico que a Georadar, empresa de engenharia de Minas Gerais, contratada pela Vale, fez sobre a estabilidade da barragem de Brumadinho, em 2016. Fontes do Ministério Público do Estado (MPE) de Minas Gerais, da Superintendência Regional do Trabalho e da Polícia Federal (PF) ouvidas pela ISTOÉ afirmam que esse laudo apontava diversas irregularidades na barragem, inclusive estruturais. “Mas a Vale engavetou esse documento, sem dar a devida atenção”, diz uma das fontes, que pediu para não ser identificada.

 

Ou seja, a Vale foi avisada e sabia dos riscos que a barragem e a população corriam. “Mas fazer os reparos necessários custaria algumas dezenas de milhões de reais, e a companhia preferiu, como sempre, priorizar o lucro à segurança da sociedade”, destaca o deputado estadual João Vítor Xavier (PSDB-MG), autor de um Projeto de Lei que visava endurecer as leis que regem a atividade da mineração que não foi aprovado pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

 

E a situação só piora para a Vale. Um ano antes de a Georadar realizar essa vistoria em Brumadinho, outro estudo técnico já indicava vários problemas na barragem. Em 2015, laudo da empresa Nicho Engenheiros, contratada pela Vale para fazer um Estudo de Impacto Ambiental (EIA), apontou diversas falhas, como a presença de sedimentos nas calhas laterais da barragem e o mau funcionamento de alguns equipamentos, entre eles quatro piezômetros e drenos utilizados para medir a vazão de água. Os piezômetros são instrumentos fundamentais para a segurança de uma barragem, pois são utilizados para medir o nível da pressão exercida pelos rejeitos e pela água sobre a estrutura.

 

Risco de rompimento

O relatório da Nicho, produzido a partir do trabalho de 27 técnicos e que ocupou mais de 2 mil páginas, indicava que “alguns piezômetros foram danificados ou suspeita-se de não estarem funcionando corretamente”. Sem medir corretamente a pressão dos rejeitos sobre a parede de contenção da barragem, o risco de um rompimento se torna altíssimo. A Vale recebeu esse laudo. Mas o alto escalão da mineradora, incluindo o presidente Fábio Schvartsman, deu de ombros ao relatório e seguiu trabalhando normalmente.

 

“O problema da Vale é a arrogância”, afirma o advogado Antonio Fernando Pinheiro Pedro, especializado em direito ambiental. “Eles só gostam de ouvir o que já sabem, só contratam consultorias que concordam com eles e querem que os problemas da empresa sejam encobertos”. Segundo Pinheiro Pedro, uma barragem como a do Córrego do Feijão precisa ser monitorada todo dia e, provavelmente, isso não vinha sendo feito. A conduta da empresa já é caso de polícia.

 

Vista aérea da barragem de rejeitos da mina Córrego do Feijão antes do desabamento (Crédito: Divulgação)

Klester Cavalcanti - ISTOÉ

Comentários
Comentário enviado com sucesso!