Goleada histórica, novo mascote, despedida do Zico, Pelé rubro-negro, inspiração musical, viradas e títulos: GloboEsporte.com faz levantamento de 20 partidas inesquecíveis para os flamenguistas
Já classificado para a semifinal da Taça Guanabara, o Flamengo entra em campo neste domingo, às 17h (de Brasília), contra a Cabofriense, para garantir o primeiro lugar do Grupo C... E para completar dois mil jogos no Maracanã em sua história. De 1.950 para cá, ano da inauguração do estádio, foram 1.084 vitórias rubro-negras, 491 empates, 424 derrotas, cinco títulos brasileiros, dois da Copa do Brasil, 17 estaduais e um Torneio Rio-São Paulo.
E desses 2.000 jogos, quais foram os mais marcantes para os rubro-negros? O GloboEsporte.com assumiu a missão de escolher 20 partidas importantes e inesquecíveis para quem acompanhou de perto. Estreia especial, públicos recordes, "adoção" de um novo mascote, despedida do Zico, Pelé rubro-negro por um dia, gol que inspirou música, viradas, goleadas, títulos... Confira a lista abaixo:
A primeira vez ninguém esquece. A estreia do Flamengo no Maracanã, embora tenha sido um jogo amistoso, teve um sentimento especial: afinal, foi logo após o Brasil perder a final da Copa do Mundo para o Uruguai no mesmo estádio recém-inaugurado. Os jogadores entraram em campo com uma bandeira do país, em homenagem à campanha da Seleção.
Três dos que disputaram o Mundial estavam em campo: Juvenal, Bigode e Zizinho, que também era rubro-negro, mas havia acabado de ser comprado pelo Bangu. Mas foram Aloysio (duas vezes) e Lero que marcaram os gols da primeira vitória do Flamengo no Maracanã, com direito à casa cheia (sem estimativa de público) e renda de cerca de Cr$ 300 mil. Não há imagens de televisão do jogo.
Outra partida sem registro de imagens da televisão, mas com um recorde que dura até os dias de hoje, foi a maior goleada da história do Maracanã: 12 a 2 sobre o São Cristóvão, com quatro gols de Evaristo (grande nome daquele time e que mais tarde adotaria o sobrenome Macedo ao virar técnico); outros quatro de Índio, dois de Joel, um de Luís Roberto e o último de Paulinho.
Aquele ataque era conhecido como "Rolo Compressor" e já tinha feito 6 a 0 no Fluminense; 4 a 1 no Vasco e Botafogo; 4 a 0 no Atlético-MG... O técnico do São Cristóvão após o jogo deu a seguinte declaração ao Jornal O Globo: "Nunca, em toda a minha vida, vi um ataque tão arrasador quanto este. Com esse ímpeto irresistível de hoje, o Flamengo desmantelaria qualquer quadro, nacional ou estrangeiro. Foi uma coisa louca!"
O Fla-Flu de 1963 é o primeiro clássico de nossa lista e detém o recorde de público do Maracanã: foram 194.603 pessoas (sendo 177.020 pagantes). E os rubro-negros que lotaram o estádio saíram comemorando: o time precisava apenas de um empate para assegurar o título e sustentou o 0 a 0 no placar graças às grandes defesas de seu goleiro Marcial, um mineiro de 22 anos que conquistou a posição durante o campeonato. São poucos os registros de televisão da época.
Na década de 60, as torcidas rivais chamavam os torcedores do Flamengo de "urubus", uma alusão racista à grande massa de afro-descendentes e pobres. A alcunha nunca foi bem recebida pelos rubro-negros, até o dia 31 de maio de 1969. Dia de um Flamengo x Botafogo, clássico de maior rivalidade na época pós-Garrincha. E o time da Gávea não vencia o rival fazia quatro anos.
Naquele dia, dois flamenguistas levaram um urubu para a arquibancada e soltaram ele com uma bandeira rubro-negra amarrada nas patas antes do início do jogo. A torcida fez a festa, vibrando e gritando: "É urubu, é urubu!". E o Flamengo venceu o jogo por 2 a 1 e encerrou o jejum. A partir dali, a ave virou o mascote do clube, substituindo o Popeye, personagem de quadrinhos americano.
Passando para os anos 70, outro jogo sem registros de imagens de televisão marcou época: um amistoso de pré-temporada contra o Benfica, de Portugal. E inspirou o cantor e compositor Jorge Ben Jor, um dos presentes na arquibancada no meio de 44 mil no estádio, a criar uma música que ganhou até festivais: Fio Maravilha e o seu "gol de anjo, um verdadeiro gol de placa" que poucos rubro-negros viram, mas todos já ouviram.
O placar não saía do 0 a 0 quando Fio, folclórico atacante do Flamengo, entrou no segundo tempo e decidiu o jogo aos 33 minutos com uma "jogada celestial", como canta e narra Ben Jor: "Tabelou, driblou dois zagueiros. Deu um toque driblou o goleiro e só não entrou com bola e tudo porque teve humildade". A canção surgiu meses depois no álbum "Ben", na faixa 6 do lado A da fita. O Flamengo depois venceu também o Vasco e foi campeão do torneio amistoso.
Quem não se lembra do gol de Rondinelli naquela final de Carioca contra o Vasco? O zagueiro, chamado de "Deus da Raça", entrou para a história do Flamengo com um gol de cabeça aos 41 minutos do segundo tempo, em um Maracanã lotado sobre o maior rival. Garantiu o título que é considerado o marco inicial da chamada "era de ouro" do clube, que de 1978 a 1983 conquistou quatro Estaduais, três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial sob o comando de Zico.
Até o "Rei do Futebol" já vestiu a camisa rubro-negra por um dia, e esse jogo em que Pelé e Zico fizeram dupla no Maracanã ficou eternizado para muitos rubro-negros. Foi apenas um amistoso beneficente contra o Atlético-MG, mas levou mais de 140 mil pessoas ao estádio e terminou com goleada por 5 a 1. Zico marcou três gols, Luisinho fez um, e Cláudio Adão marcou o último.
Pelé, que já tinha se aposentado à época, estava com 39 anos e jogou apenas o primeiro tempo vestindo a camisa 10, cedida por Zico. Ele não marcou, mas ouviu o estádio inteiro gritar seu nome quando teve um pênalti que deixou para Zico, que usou a 9. A renda da partida, que chegou a CR$ 8.781.290,00, foi revertida para vítimas das enchentes em Minas Gerais.
O primeiro título brasileiro foi conquistado em pleno Maracanã e é outro jogo inesquecível para os rubro-negros que acompanharam. O Flamengo havia perdido o primeiro jogo da final para o Atlético-MG, por 1 a 0 no Mineirão, e precisava vencer diante de sua torcida. E conseguiu com um gol de Nunes, após lindo drible, aos 37 do segundo tempo: 3 a 2. No placar agregado, ficou 3 a 3, mas o Rubro-Negro teve vantagem nos critérios de desempate pela melhor campanha na semifinal.
A goleada por 12 a 2 de 1956 foi a maior do Maracanã, mas a mais famosa para os rubro-negros é outra, digamos, um pouco mais modesta: 6 a 0 sobre o Botafogo. Resultado que fez a torcida ir ao delírio e marcou o fim de uma era de gozações por causa da goleada, pelo mesmo placar, sofrida nove anos antes, em 1972. Naquele dia, os flamenguistas saíram do Maracanã vingados. Com gols de Nunes, dois de Zico, Lico, Adílio e Andrade, o time desentalou o grito entalado.
A "vingança" sobre o Botafogo foi um combustível para o desafio maior que estava por vir na mesma semana: a final da Libertadores. O título, logo no primeiro ano em que o clube disputou o principal torneio da América do Sul, foi conquistado em Montevidéu, no Uruguai, no jogo de desempate contra o Cobreloa, do Chile. Mas a primeira partida, com vitória por 2 a 1 no Maracanã, que contou até com Pelé no meio da torcida, ficou marcada para os rubro-negros.
Aquele time de Zico e companhia havia acabado de conquistar o Mundial de Clubes um mês antes em Tóquio, no Japão. Era o reencontro com a torcida no Maracanã, desde o primeiro jogo da final da Libertadores. Era aniversário do Rio de Janeiro, e 85.236 torcedores foram ao estádio para ver os atuais campeões do mundo. Mas o São Paulo abriu 2 a 0 e assustou o público, mas o Flamengo reagiu e virou no segundo tempo, com dois gols de Zico e um de Andrade.
O bicampeonato brasileiro foi conquistado longe de sua torcida, no Olímpico sobre o Grêmio em 1982, mas o tri voltou para o Maracanã. O adversário era o Santos, e o Flamengo havia perdido o primeiro jogo, no Morumbi, por 2 a 1. Mas em casa, fez 3 a 0, com direito a gol-relâmpago de Zico aos 40 segundos, e garantiu mais um título diante de 155.523 pagantes, maior público da história do torneio. Foi também a última partida do Galinho antes de ser vendido para a Udinese, da Itália.
Zico já havia voltado para o Flamengo quando o clube conquistou o seu título mais polêmico até hoje: a Copa União de 1987, que teve as principais forças do futebol nacional e por isso foi considerado o Campeonato Brasileiro daquele ano (o Sport ganhou o torneio organizado pela CBF e buscou na Justiça o reconhecimento como único campeão de 87). Litígios à parte, a final entre Flamengo e Internacional foi eletrizante e teve como herói Bebeto, autor do gol do título.
A despedida oficial de Zico como jogador do Flamengo foi em um Fla-Flu em Juiz de Fora (MG) que terminou com goleada rubro-negra por 5 a 0. Mas o clube preparou um último jogo para o seu maior ídolo em toda a história: um amistoso contra uma seleção de jogadores consagrados, como Taffarel, Paul Breitner, Falcão, Karl-Heinz Rummenigge e Roberto Dinamite por exemplo, e que contou com show pirotécnico para a entrada do Galinho em campo.
Ele jogou o primeiro tempo com o time campeão de 81 (sem Figueiredo, falecido em 1984, e Mozer, que não pôde comparecer), e o segundo com o time principal do Flamengo na época, que tinha Leonardo, Zinho, Renato Gaúcho... Fernando e Leonardo marcaram os gols rubro-negros do amistoso festivo. Após a partida, Zico deu uma volta olímpica no gramado com "Tá Chegando a Hora!", do cantor Wilson Simonal, no sistema de som.
O pentacampeonato brasileiro também teve o Maracanã como palco dos dois jogos da final contra o Botafogo. Mas foi o primeiro que mais marcou os rubro-negros. Afinal, o rival tinha uma equipe forte, chamada por sua torcida de "dream team" (time dos sonhos em inglês), e entrou na decisão como favorita. Mas o Flamengo, comandado por Júnior, fez 3 a 0 no primeiro tempo: com o próprio Júnior, Nélio e Gaúcho. Vantagem enorme para a partida da volta, que terminou em 2 a 2.
Qual rubro-negro não se lembra daquela falta de Petkovic? O gol do sérvio é, junto com o de Rondinelli em 78, um dos mais lembrados pelos seus torcedores na história. O Flamengo havia perdido para o Vasco por 2 a 1, no primeiro jogo da final do Carioca, e precisava ganhar por dois de diferença na partida derradeira. Edílson marcou dois, mas o Cruz-Maltino fez um e viu sua torcida já comemorar na arquibancada. Quando aos 43 minutos do segundo tempo, o camisa 10 colocou a bola no ângulo e garantiu ao clube o tricampeonato estadual sobre o maior rival.
Talvez a virada mais marcante para os rubro-negros seja a do Fla-Flu de 2004. Não foi sequer um duelo decisivo, valia apenas pela fase de grupos da Taça Guanabara, mas levou 60 mil pessoas ao Maracanã. O Flamengo não derrotava o rival há quatro jogos e abriu o placar, mas viu o Tricolor virar e fazer 3 a 1 já na metade do segundo tempo. Os tricolores gritavam "olé" na arquibancada, quando o Rubro-Negro reagiu e virou o placar para 4 a 3 em 11 minutos. Os gols foram de Jean, Felipe e dois de Roger Guerreiro. Foi a partida da "virada da poeira", quando os rubro-negros adaptaram a música "Sorte Grande", da Ivete Sangalo, que embalou o time rumo ao título carioca.
O Maracanã também recebeu o primeiro clássico em uma final de Copa do Brasil, entre Flamengo e Vasco em 2006. O Rubro-Negro foi superior nos dois jogos e se tornou bicampeão do torneio com um placar agregado de 3 a 0. A expulsão do vascaíno Valdir Papel, na segunda partida, foi uma cena inesquecível do confronto, mas o gol de Obina no primeiro jogo, com uma bomba no ângulo na etapa final, que colocou vantagem em um duelo até então equilibrado, foi o mais marcante. Depois, Luizão ainda fez mais um, e o 2 a 0 já deixou o título bem encaminhado.
O hexa brasileiro é uma das cenas recentes mais marcantes para os rubro-negros. Há 10 anos, o time comandado por Petkovic e Adriano chegou à última rodada dependendo apenas de si para conquistar o título. O adversário era o Grêmio, que tinha o rival Internacional como concorrente do Rubro-Negro pela taça e foi com um time reserva para a partida. Mas o Tricolor abriu o placar e colocou tensão em um Maracanã lotado. Mas David Braz empatou, e Ronaldo Angelim, já na metade do segundo tempo, garantiu a virada que fez o estádio explodir e a equipe campeã.
Para fechar a lista, a última partida marcante que entrou na lista já tem mais de cinco anos. Foi na Copa do Brasil de 2013, que terminou com o tricampeonato do Flamengo no torneio. Mas nem a final contra o Athletico-PR foi tão emblemática naquela campanha do que o clássico com o Botafogo pelas quartas de final. Assim como em 1992, o rival, que tinha o craque holandês Seedorf, entrou como favorito, mas o Rubro-Negro atropelou. Após empate por 1 a 1 no jogo de ida, na volta aplicou uma goleada por 4 a 0, com show de Hernane Brocador, autor de um hat-trick.
Foto: GloboEsporte.com
Por GloboEsporte.com — Rio de Janeiro