Campanha prevê escuta ativa, rodas de conversa e orientação sobre a violência psicológica contra a mulher
Manaus (AM) - “Agosto Lilás HUGV no Combate à Violência contra a Mulher: Prevenção, Escuta, Acolhimento e Ação” é o tema da campanha Agosto Lilás promovida este ano pelo Hospital Universitário Getúlio Vargas (HUGV-Ufam), administrado pela Rede Ebserh, reforçando o compromisso da instituição com o enfrentamento à violência contra a mulher. A campanha ocorre de 25 a 29 de agosto, com ações voltadas à conscientização e à orientação a pacientes, acompanhantes, servidores e comunidade hospitalar em geral.
Organizada pela Unidade Multiprofissional e pelo Grupo de Trabalho e Humanização (GTH) do hospital, a campanha promove rodas de conversa interativas com foco na violência psicológica – uma das formas mais sutis e frequentes de agressão contra mulheres, muitas vezes naturalizada ou invisibilizada nas relações.
As atividades incluem a escuta ativa de relatos, a partilha de informações sobre os diversos tipos de violência previstos na Lei Maria da Penha e a desmistificação de comportamentos abusivos que frequentemente passam despercebidos no cotidiano. “A violência psicológica mina a autoestima, a liberdade e a identidade da mulher. Muitas vezes, ela acontece de forma silenciosa, mas tem efeitos devastadores”, é o que afirma a psicóloga Joana Brito de Oliveira Castelo Branco, que integra a organização das ações ao lado da equipe multiprofissional do hospital.
Além das rodas de conversa, serão distribuídos materiais informativos e realizadas orientações individuais nos setores de internação, ambulatório e áreas de circulação do hospital. A campanha busca sensibilizar e capacitar não apenas as mulheres, mas todos que atuam no ambiente hospitalar, para reconhecer os sinais de violência e fortalecer redes de apoio.
Como ocorre a violência psicológica?
De acordo com Joana Castelo Branco, a violência psicológica é considera tão prejudicial quanto a violência física e se caracteriza por ações que visam controlar, humilhar, manipular, ameaçar ou diminuir emocionalmente a vítima. Isso pode ocorrer por meio de críticas constantes, isolamento social, chantagens, intimidação, gaslighting (fazer a vítimas duvidar da sua própria sanidade) ou desvalorização da autoestima.
“Ela é tão prejudicial quanto a violência física porque afeta profundamente a saúde mental, podendo levar à depressão, ansiedade, estresse, baixa autoestima, dificuldade de tomada de decisões e até o risco de suicídio”, afirma.
Alguns sinais podem indicar que uma mulher está sofrendo esse tipo de violência, como mudanças bruscas no comportamento, como retraimento, tristeza excessiva ou ansiedade, medo constante do parceiro, inclusive de expressar opiniões ou tomar decisões, baixa autoestima e sentimento de culpa frequentes, isolamento de amigos e familiares, justificativas constantes para comportamentos do parceiro, mesmo quando abusivos, dificuldade de reconhecer o próprio valor ou de sair da relação.
Esses sinais nem sempre são óbvios, por isso é importante estar atento e oferecer apoio sem julgamentos. O primeiro passo é reconhecer que está em uma situação de violência — e isso pode ser muito difícil, conforme explica Castelo Branco. Procurar ajuda profissional é essencial.
“A mulher pode recorrer a psicólogas, assistentes sociais, centros de atendimento especializados (como os Centros de Referência da Mulher), a Defensoria Pública e a rede de apoio pessoal. Em situações de risco imediato, deve-se procurar a Delegacia da Mulher ou ligar para o número 180, que oferece orientação 24h. Além disso, medidas protetivas de urgência podem ser solicitadas ao sistema judiciário para garantir a segurança da vítima”, acrescenta a especialista.
Escuta acolhedora
A escuta acolhedora é fundamental. Ela oferece à mulher um espaço seguro para falar sem ser julgada, interrompida ou pressionada. Muitas vezes, essa é a primeira oportunidade que ela tem de nomear o que está vivendo.
A escuta sensível valida os sentimentos da vítima, fortalece sua autonomia e permite que ela compreenda que não está sozinha. Mais do que ouvir, acolher é estar presente com empatia, oferecendo suporte e orientação de forma ética e respeitosa.
No HUGV-Ufam/Ebserh, o apoio pode vir da equipe multidisciplinar: psicologia, serviço social, enfermagem e medicina. Muitas instituições têm fluxos de atendimento específicos para casos de violência, inclusive com notificação compulsória.
De acordo com a assistente Social Jocenir Carvalho Pinto, da Unidade Multiprofissional do HUGV, o Serviço Social desempenha um papel essencial no acolhimento de mulheres vítimas de violência, por meio de um trabalho pautado na ética profissional, no sigilo e no compromisso com a defesa dos direitos humanos, contribuindo para um atendimento humanizado e integral dentro do hospital.
“As assistentes sociais realizam o acolhimento dos pacientes e seus familiares por meio de escuta qualificada e da entrevista social, momentos nos quais são identificadas, muitas vezes, situações de agressão, negligência ou outras formas de violência. Esse processo de escuta ocorre tanto na admissão quanto no acompanhamento diário durante a internação, o que possibilita a identificação de casos que, inicialmente, não foram relatados. Quando há indícios ou confirmação de violência, o Serviço Social realiza o devido registro no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN/SINAM), conforme protocolos institucionais e legais”, enfatiza.
Agosto Lilás
A campanha nacional Agosto Lilás foi criada para divulgar e reforçar as medidas de enfrentamento à violência contra mulher. Durante todo o mês, o Ministério das Mulheres apresentará dados e informações para alertar a população sobre o papel de cada cidadã e cidadão no enfrentamento da violência de gênero e para lembrar da importância da Lei Maria da Penha (nº 11.340/06), que, em 2025, completa 19 anos.
Sobre a Ebserh
O HUGV-Ufam faz parte da Rede Ebserh desde 2013. Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 45 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.
Fotos: Assessoria de Comunicação / (HUGV-Ufam)
Fonte: Aretha Lins / Jornalista