Belém, Belo Horizonte, Florianópolis e Paraty mostram como a cozinha local pode impulsionar o turismo e fortalecer a cultura regional
Cidades que transformam ingredientes em identidade e a tradição em atrativo turístico: esse é o perfil das quatro cidades brasileiras que fazem parte da Rede de Cidades Criativas da Gastronomia da Unesco. Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Florianópolis (SC) e Paraty (RJ) foram reconhecidas internacionalmente por suas ações em torno da culinária como ferramenta de desenvolvimento sustentável e valorização cultural.
Esse reconhecimento vai além do título. Na prática, impulsiona o turismo gastronômico, fortalece negócios locais e reforça o papel da comida na construção da experiência de quem visita esses destinos. Em cada uma delas, bares e restaurantes são vitrines de uma cultura viva, que se renova a cada prato servido.
Belém: o sabor que vem da floresta
Belém foi pioneira no Brasil ao conquistar o título, em 2015. A capital paraense transformou sua gastronomia em marca registrada — e não apenas por causa do tucupi, do tacacá ou do açaí servido sem açúcar. A cidade elevou ingredientes amazônicos à alta gastronomia e hoje atrai turistas do Brasil e do mundo movidos pela curiosidade de provar sabores únicos.
Para Rafael Barros, do restaurante Amazônia na Cuia, o aumento no número de turistas tem relação direta com o destaque culinário da região. “Nosso restaurante já tem 55% do público formado por turistas, e pratos como maniçoba, tacacá e o açaí original causam surpresa e encantamento”, conta. Ele acredita que o título da Unesco ajudou a internacionalizar a culinária paraense. “Já recebemos muitos estrangeiros curiosos por experimentar nossa comida. Isso valoriza não só o restaurante, mas toda a cadeia produtiva envolvida.”
Belo Horizonte: união da tradição mineira com o reconhecimento global
A capital mineira entrou para a Rede em 2019, e sua candidatura foi construída de forma colaborativa. O empresário Ricardo Rodrigues, dono do tradicional restaurante Maria das Tranças, teve papel de destaque no processo. Na época, ele presidia a seccional mineira da Abrasel, que articulou junto ao poder público e outras entidades do setor a candidatura da cidade.
“Nós percebemos que só seria possível conquistar esse título com união. A primeira tentativa falhou por falta de articulação. Na segunda, reunimos o setor, a prefeitura, os festivais e mostramos à Unesco o que é a gastronomia mineira”, relembra.
Segundo ele, a chancela impactou diretamente o turismo. “Belo Horizonte passou a ser incluída nos roteiros de turismo gastronômico. Hoje, pessoas de outros estados e países visitam Minas com esse propósito”, afirma. Para representar a cidade, Ricardo escolhe o frango ao molho pardo, prato servido no Maria das Tranças há 75 anos: “É história, tradição e sabor. E ainda emociona clientes que vêm aqui há décadas.”
E não tem dúvidas ao afirmar: “Me perdoem as outras gastronomias, mas a mineira é inconfundível. É base para muitas outras do país.”
Florianópolis: entre o mar e os saberes tradicionais
A capital de Santa Catarina foi incluída na Rede em 2014 e destaca-se pela valorização da cultura açoriana, da pesca artesanal e da biodiversidade alimentar da região. A cidade promove eventos, projetos educacionais e ações sustentáveis com foco em ingredientes locais — como frutos do mar, butiá, taioba e mandioca.
Floripa vem se consolidando como um destino de turismo gastronômico com foco em experiências que conectam visitantes à natureza e à cultura local.
Paraty: sabores que contam histórias
Localizada no litoral sul do Rio de Janeiro, Paraty une belezas naturais, patrimônio histórico e uma culinária marcada pela diversidade cultural. A cidade integra a Rede da Unesco desde 2017 e se destaca pelo protagonismo das comunidades tradicionais.
Receitas que misturam ingredientes caiçaras, quilombolas e indígenas são servidas em bares e restaurantes que se conectam à história viva da cidade. O turismo em Paraty ganha força em festivais gastronômicos, feiras culturais e iniciativas que colocam a comida no centro da experiência turística.
Comida como estratégia de desenvolvimento
O título de Cidade Criativa da Gastronomia é concedido a municípios que transformam a culinária em ferramenta de inclusão, educação, geração de renda e promoção cultural. Para isso, devem comprovar ações em políticas públicas, valorização de ingredientes locais, formação de profissionais e estímulo à inovação.
No Brasil, as quatro cidades mostram como a gastronomia pode ser motor de desenvolvimento regional e atrativo para visitantes em busca de experiências autênticas. Ao valorizar o que é local, criam conexões afetivas e ampliam o alcance da cultura brasileira.
Foto: Assessoria de Comunicação
Fonte: Guilherme Fonseca/Associação Brasileira de Bares e Restaurantes