Ouvir rádio

Pausar rádio

Offline
Uma avenida, duas paixões: bares rivais de Manaus celebram amor por Parintins
Arte & Cultura
Publicado em 24/05/2024

Os bares Comunidade Garantido e Bar do Lourinho compartilham uma rivalidade amistosa nas noites da avenida Constantino Nery, onde estão separados por duas cores e apenas alguns metros de distância

 

Poucos metros de distância separam duas paixões diferentes na movimentada avenida Constantino Nery, no bairro Chapada, Zona Centro-Sul de Manaus. Dois bares tradicionais que celebram memórias e representam a rivalidade amistosa que marca o Festival Folclórico de Parintins.

 

Com cerca de três décadas de existência, o Bar Comunidade Garantido evidencia de longe o seu amor pelo ‘Boi do Povão’. Dentro do estabelecimento, as cores vermelho e branco estão em todo canto. Mas um contraste que chama a atenção é que dali mesmo é possível ver o azul intenso do Bar do Lourinho, que desde 1998 carrega a temática do boi Caprichoso.

 

Brincadeiras amigáveis e respeito Mútuo

Os estabelecimentos são redutos antigos dos torcedores dos bois rivais de Parintins, em Manaus. No entanto, os bares compartilham memórias e objetivos em comum que mantêm viva a cultura e a tradição.

 

Alcides José, o ‘Lourinho’, proprietário do bar azulado (Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

 

Em uma das tantas brincadeiras saudáveis entre as torcidas, Alcides José, o ‘Lourinho’, lembra de um ano em que a avenida foi tomada por uma fumaça azul preparada por eles para alfinetar os torcedores do Garantido que passariam por lá em uma carreata tradicional.

 

“Derrota é ruim porque durante o ano todo a galera do boi contrário passa aqui na frente zoando a gente. Mas quando tem vitória é legal porque a gente passa o ano feliz e de alma lavada. A caravana do Garantido passa aqui na frente e a gente gosta de tirar onda com eles. Teve um ano que a gente colocou essa Constantino Nery cheia de fumaça azul e foi muito legal e marcante”, contou Lourinho.

 

Lenier, ao lado de Tereza e Ana Esteves, de 81 e 75 anos, respectivamente. As irmãs são descendentes de Lindolfo Monteverde, o fundador do Boi Garantido (Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

 

Lenier Farias, uma das proprietárias do Bar Comunidade Garantido, lembra do episódio e conta que no ano seguinte eles deram a resposta e soltaram o triplo de fumaça vermelha, que se espalhou pela avenida e invadiu o bar do ‘Touro Negro’.

 

“Nós demos o troco nele no ano seguinte. Ele fez um ano e a rua ficou toda azul, nós passamos com o caminhão da carreata e dissemos: beleza, a gente vai guardar. Quando foi no ano seguinte, compramos o triplo da fumaça, só que vermelha, e infestamos a Constantino Nery de fumaça vermelha e o bar dele ficou todo vermelho. Ainda pegamos o boi e fomos dançar lá na frente”, contou Lenier, sorrindo.

 

(Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

 

Lenier ressalta, porém, que são sempre brincadeiras amigáveis, afinal, Lourinho é um vizinho antigo e tanto eles quanto seus filhos cresceram juntos no bairro. Outro ponto em comum é que os dois bares surgiram como um espaço de reunião entre amigos que compartilhavam a paixão pelo Festival de Parintins, em uma época em que o evento não tinha tanta popularidade quanto hoje.

 

A Comunidade Garantido surgiu por volta de 1994, quando o esposo de Lenier, já falecido, costumava reunir os amigos e colocava toadas para embalar as festas. Segundo Lenier, o local foi o primeiro bar em Manaus com a temática do Garantido, e até hoje continua com a proposta de reunir amigos, que trazem também outros convidados e juntos celebram o amor pelo boi vermelho e branco. O bar funciona todas as sextas e sábados, a partir das 18h.

 

Ana Esteves, ao lado do Boi Garantido (Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

 

Lenier conta que a paixão pelo Garantido surgiu por intermédio das duas tias do seu falecido esposo, que são parintinenses e descendentes de Lindolfo Monteverde, o fundador do boi Garantido. Ana Esteves, de 75 anos, e Tereza Esteves, de 81 anos, contam que são sobrinhas da esposa de Lindolfo e vieram para Manaus ainda adolescentes.

 

“Naquela época era de lamparina, eles passavam na avenida e o povo dizia: lá vem o Garantido e todo mundo se preparava. Quando a mamãe dava fé, lá estava eu no meio do pessoal e eu ia embora. O pessoal com as lamparinas e eu ali do lado pulando e cantando”, relembra dona Ana.

 

Paixão azulada

Tradição também marca a história do Bar do Lourinho, que se apaixonou pelo boi Caprichoso em 1991. As paredes do estabelecimento contam um pouco da história do bar com fotos e memórias de personalidades marcantes do festival. Em uma delas, há um quadro com o tururi (abadá) da Tribo do Pop de Arlindo Junior, levantador de toadas do Caprichoso falecido em 2019. Outra foto celebra a memória de Markinho Azevedo, tripa do boi Caprichoso, falecido no ano passado.

 

Tururi (abadá) do levantador do Caprichsoso, Arlindo Júnior, o eterno ‘Pop da Selva’ (Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

 

Todo ano, o Bar do Lourinho é pintado com o tema do boi Caprichoso e, este ano, já ganhou um visual novo. O local funciona de quarta a domingo, a partir das 18h30. Porém, uma semana antes do Festival de Parintins, o bar fecha porque Lourinho embarca para Parintins, assim como muitos amantes do festival, e lá aproveita suas merecidas férias brincando de boi.

 

O Bar do Lourinho funciona há quase três décadas (Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

 

(Foto: Paulo Bindá/A CRÍTICA)

Fonte: Amariles Gama / online@acritica.com

 

 

Comentários
Comentário enviado com sucesso!