Os levantamentos, mais recentes, foram feitos nos dias 27, 28 e 29 de novembro, em pontos estratégicos da cidade
Novos relatórios de acompanhamento da qualidade da água dos poços que abastecem a cidade de Parintins (a 369 km de Manaus), realizados no final de novembro, apontam a permanência dos problemas identificados em agosto, pela Companhia de Saneamento do Amazonas (Cosama) e Fundação de Vigilância em Saúde (FVS): contaminação por nitrato e alumínio, em altíssima concentração. Em decorrência disso, o pH da água apresenta acidez elevada, fora dos padrões recomendados para o consumo humano.
As análises, conforme relatório das equipes técnicas da Cosama e FVS, não detectaram a presença de resíduos que apontem que venha sendo feito tratamento com cloro, uma exigência em captação subterrânea, estabelecida pela Portaria GM/MS 888. Nas coletas realizadas, o índice de cloro na água foi zero, indicando que esse tratamento não é realizado. Os resultados são preocupantes, afirma o diretor-presidente da Cosama, Armando do Valle. Segundo ele, são necessárias medidas urgentes e imediatas e o Governo do Estado já se prontificou a ajudar a Prefeitura a solucionar o problema.
Os novos relatórios foram encaminhados para a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedurb), órgão ao qual a Cosama é vinculada. Também serão enviados à Prefeitura do município e aos órgãos competentes. Em Parintins, as ações de saneamento são executadas por empresa municipal, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae).
Os relatórios apresentados são de coletas realizadas nos dias 27, 28 e 29 de novembro deste ano, com análise de parâmetros físico-químicos e presença de metais, em pontos estratégicos da cidade, como pontas de rede, poços tubulares, instituições públicas (escolas, hospitais, creches etc.), bumbódromo, aeroporto, feiras e residências unifamiliares.
As visitas técnicas para acompanhamento da qualidade da água em Parintins foram designadas pela Diretoria de Operações (Diop) da Cosama. Primeiramente, foi realizada a instalação dos equipamentos que compõem o laboratório, no Centro Educacional de Tempo Integral (CETI), bem como os materiais para as análises. Na sequência, as equipes, compostas por biólogo, geólogo, engenheiro químico e outros profissionais, realizaram o mapeamento dos pontos de coleta. As coletas foram realizadas durante o dia.
No dia 27, a coleta da água foi feita em 18 pontos da cidade. Em todos eles, o pH, que deve estar entre 6 e 9, ficou abaixo do desejado – no máximo, chegando a 3,87. A presença de nitrato, nesse dia, foi registrada em todos os pontos de coleta, em alta concentração. O nitrato é uma substância que indica a contaminação da água por resíduos de esgoto. O máximo permitido é de 10 mg/litro. Os valores identificados ficaram entre 23,02 e 202,80. A contaminação por alumínio também é evidente. A presença dele deve ser de até 0,2 mg/l. Só três pontos de coleta apresentaram normalidade nesse item. O restante ficou acima, chegando a 0,49 mg/l.
No dia 28, a coleta foi realizada em 10 pontos da cidade. Em todos eles, o pH ficou abaixo de 6, entre 2,3 e 3,75, indicando alta acidez, muito além do satisfatório. Foi constatada a contaminação por nitrato, ficando na faixa de 100 mg/l. O poço tubular 4 apresentou o nível preocupante de 253,5 mg/l. O metal alumínio também se manifestou em valores muito elevados, com resultados acima do padrão, na faixa de 0,40 mg/l.
No dia 29, mais uma vez foi constatada a contaminação por nitrato, com resultados na faixa de 100 mg/l. Os níveis alcançados na Escola Estadual Tomazinho foram de 238,0 mg/l, um dado extremamente preocupante, segundo o gestor da Cosama. O alumínio também apresentou valores elevados, acima do padrão determinado pela portaria, ficando numa média de 0,50 mg/l. O pH ficou na faixa de 4,0, indicando elevada acidez. Nesse dia, conforme a leitura realizada, dois pontos de coleta apresentaram resultados em desacordo para coliformes fecais.
Alerta
O primeiro alerta da Cosama sobre a qualidade da água em Parintins foi dado no “Relatório Sintético - Situação do Poços de Parintins/AM”, assinado pelo órgão e pela FVS, em agosto deste ano. O relatório apresentou o diagnóstico dos poços subterrâneos administrados pelo Saae, no município. Identificou a contaminação de 22 dos 26 poços que abastecem a cidade, com concentração altíssima de poluentes, como amônia, manganês, ferro e, os mais graves, nitrato e alumínio, bem como a presença de coliformes totais e fecais. Ou seja, mostrou que a água é imprópria para o consumo.
O documento recomenda medidas emergenciais e imediatas para a solução dos problemas. O relatório foi encaminhado à Prefeitura do município, ao Ministério Público do Amazonas, Ministério Público Federal, Ministério Público de Contas, Tribunal de Contas do Estado, Defensoria Pública e Câmara Municipal de Parintins.
Em novembro o governador Wilson Lima se colocou à disposição da Prefeitura de Parintins para ajudar no que for preciso, para melhorar o serviço de tratamento e abastecimento de água da cidade. O governador apresentou a disponibilidade ao prefeito da cidade, Bi Garcia, e destacou que o Estado pode administrar o sistema, por entender que o município não tem condições financeiras para realizar o trabalho.
Todo o fornecimento público de água para consumo humano em Parintins provém de captação subterrânea (Aquífero Alter do Chão), sob a responsabilidade do Saae, que conta com 28 poços tubulares em operação.
A ideia do Governo do Amazonas é que o trabalho seja coordenado pela Sedurb e Cosama e o Saae necessita passar por uma imediata intervenção técnica.
A contaminação dos poços que abastecem a cidade foi tema de Audiência Pública realizada pela Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam), no município, na última sexta-feira (1º/12). A audiência foi realizada a pedido do presidente da Comissão de Geodiversidade, Minas, Gás, Energia, Recursos Hídricos e Saneamento da Aleam, deputado Sinésio Campos. Durante a audiência, o Saae admitiu os problemas, que atestam que a água fornecida para a população é imprópria para consumo humano.
O deputado Sinésio Campos observa que estudos de 2005 já mostravam problemas na qualidade da água de Parintins. Em 2018 a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) apontou novos problemas. Em 2019, a Aleam fez uma Audiência Pública para discutir a questão. Nesse mesmo ano, relatório do Serviço Geológico do Brasil também apontava a contaminação dos poços. “Isso é um risco para a população, já que essa contaminação leva a problemas de saúde, que vão desde a diarreia até o câncer. Queremos encontrar uma solução definitiva”, afirmou Sinésio Campos, na audiência realizada em Parintins.
Fotos: Divulgação/Cosama