Atualmente são 31 UTIs no interior; até 2021, atendimentos de alta complexidade na área de saúde só eram disponíveis em Manaus
Durante décadas, pacientes que necessitavam de atendimento de alta complexidade nos municípios do interior do Amazonas precisavam ser transferidos em UTI aérea para receber tratamento de saúde adequado para casos graves. O maior estado do Brasil começou a encurtar distâncias desse tipo de atendimento da população que mais precisa em 2021, quando implantou os primeiros leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da história fora de Manaus. Atualmente já são 31 leitos em três importantes municípios.
Projeto da atual gestão do Governo do Estado, as primeiras UTIs foram instaladas em Parintins (a 369 quilômetros de Manaus), em outubro de 2021. A cidade, na região do Baixo Amazonas, conta com 11 leitos.
Depois disso, o serviço passou a ser oferecido pelo governo estadual nos municípios de Tefé (distante 523 quilômetros da capital) e Tabatinga (a 1.108 quilômetros de Manaus), na tríplice fronteira com o Peru e a Colômbia. As duas cidades ganharam dez leitos de UTI, cada. Em pouco mais de um ano, já foram realizadas mais de 500 internações nos três municípios que contam com a estrutura.
Agora, o Governo do Estado começou a implantar os leitos hospitalares na cidade de Humaitá, que fica distante 590 quilômetros de Manaus – distância maior que uma viagem entre São Paulo e Rio de Janeiro e que os pacientes em situação de urgência precisam fazer pelas UTIs aéreas.
Em Tefé, os leitos de UTI estão em funcionamento no Hospital Regional Carlos Braga, desde junho deste ano. De lá para cá, 58 pessoas que estavam em estado grave foram atendidas e não precisaram viajar para Manaus. O público é formado por tefeenses e habitantes de outras seis cidades vizinhas.
Pacientes e profissionais de saúde dessas localidades comemoram a instalação dos leitos, uma demanda existente há décadas.
“Melhorou muito na questão da transferência e no cuidado desses pacientes. Hoje a gente tem UTI no próprio município, então a logística acontece dentro do próprio hospital, e o paciente já começa seus cuidados aqui no próprio município”, afirmou Lecita Marreira, secretária municipal de Saúde de Tefé.
Atendimento
Em agosto, o aposentado Otávio Lacerda, de 66 anos, passou por procedimento cirúrgico devido a complicações na próstata. Ele ficou por duas semanas na UTI de Tefé.
“No meu caso, que tive que passar da sala de cirurgia direto para a UTI, se não existisse a UTI dentro do hospital em Tefé, eu digo para vocês que teria sido muito difícil. Talvez fosse necessário ser removido daqui para outra cidade. Lá tem muitos equipamentos e o atendimento é muito bom, 24 horas, fui muito bem atendido graças a Deus. Acredito que mais uns 30 dias para completar os 90 dias (em recuperação) já chegou aos 100%. Se Deus quiser vai chegar”.
O eletricista Agostino Barreto, 49, acompanha a mãe, idosa de 80 anos, internada após uma arritmia cardíaca, no dia 22 de outubro. Ela foi encaminhada com urgência para a UTI, mas depois do atendimento teve o quadro estabilizado pelos profissionais de saúde.
“Tudo está correndo bem. Agradeço muito ao Governo do Estado por ter implantado essa UTI aqui em Tefé. Se não fosse isso, a minha mãezinha teria que se deslocar para Manaus e talvez não suportasse nem essa viagem. Como tem essa UTI agradeço muito, e o atendimento foi perfeito. Ela está se sentindo muito bem e se sentindo em casa e brevemente ela estará conosco”.
A autônoma Lidiane Menezes Gonzaga, de 40 anos, acompanha a mãe, Creuza Menezes, de 82 anos, que é cardiopata e está internada no Hospital Jofre Cohen, em Parintins.
“A minha mãe é cardiopata, a gente descobriu que ela é cardiopata em 2012. Ela tinha que ser transferida sempre para Manaus para esse tratamento, e o custo era bem mais caro. Hoje não, com a implantação da UTI em Parintins, tudo ficou bem mais fácil, e eu sei que quando ela vem para a UTI aqui no Jofre Cohen, ela é bem assistida”, disse.
Estrutura
De acordo com diretor clínico do hospital de Tefé, Júlio César Miranda, a unidade conta uma estrutura adequada, com equipamentos de alta tecnologia.
“Hoje, para todos os pacientes que precisam de cuidados intensivos, a gente consegue ofertar esses cuidados aqui da unidade. Inclusive, a nossa demanda de remoções para Manaus diminuiu significativamente desde a inauguração da UTI. E nós também conseguimos fazer cirurgias de alta complexidade, que nós não conseguimos fazer antes pelo fato de não termos a UTI”, pontuou o médico.
Além da estrutura tecnológica, a implantação das UTIs exigiu ainda a contratação e treinamento das equipes profissionais, um trabalho que ocorreu em parceria com as prefeituras. Em Tefé, por exemplo, a equipe é composta por médicos intensivistas, enfermeiros, nutricionista, farmacêuticos, cardiologista, psicólogo e fonoaudiólogo, envolvidos na assistência aos pacientes internados.
O secretário de Estado de Saúde, Anoar Samad, reforça a importância da estrutura pioneira no interior do Amazonas. “Se você for ver, a quantidade de vidas que foram salvas simplesmente por ter leitos de UTI é incomensurável, não tem preço que pague uma coisa dessa”, afirmou o secretário.
FOTOS: Lucas Silva/Secom
*Redação: blogjrnews.com